Sociedade

CAP promove manifestação de agricultores em Mirandela contra "a incompetência" do Governo

Orlando Almeida / Global Imagens

A CAP espera ter nas ruas de Mirandela, "cerca de 2500 agricultores e uma centena de tratores".

A meio da manhã, está marcada para Mirandela, no distrito de Bragança, uma manifestação de agricultores de toda a região Norte promovida pela CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal - em protesto pelo que classificam de incompetência do Governo e em particular do Ministério da Agricultura na gestão das verbas que chegam da União Europeia.

A CAP garante que estão 1300 milhões de euros por executar do PDR 2014-2022 e que parte desse dinheiro pode vir a perder-se. Mas há outras razões para este protesto, os agricultores também estão contra a extinção das Direções Regionais de Agricultura e a sua integração nas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR).

Na manifestação desta quinta-feira, a CAP espera ter nas ruas de Mirandela, "cerca de 2500 agricultores e uma centena de tratores". Os números são avançados pelo secretário-geral da CAP.

Luís Mira garante que mais de 60 associações de agricultores do Norte do país vão marcar presença nesta manifestação em desagrado com o que dizem ser o colapso do Ministério da Agricultura e a desvalorização do Mundo Rural. "Neste momento temos 1300 milhões de euros do PDR" - Plano de Desenvolvimento Regional - "que não estão a ser utilizados por Portugal quando o seu prazo já devia ter sido executado até dezembro de 2022 e isto pode vir a traduzir-se numa perda de parte deste dinheiro e isto preocupa-nos", diz.

Para o secretário-geral da CAP, esta situação deve-se "à incompetência do Governo", porque 2023 "é o ano na história dos fundos comunitários em que Portugal tem mais verbas e falou-se muito na bazuca, mas é preciso ter meios para aplicar a bazuca e estamos a constatar que esses meios não existem", adianta.

Luís Mira diz que todos os dias os agricultores portugueses perdem competitividade face aos vizinhos espanhóis. "Eles estão a ser compensados com o aumento dos custos dos adubos, as compensações pela energia e combustíveis são maiores e assim não temos condições para concorrer com os nossos produtos quando as condições que nos dão em Portugal, onde o Governo tem a maior receita fiscal de todos os tempos, não compensa e não dá condições para o setor funcionar", acusa.

Mas para o secretário-geral da CAP, "a faísca que acendeu o rastilho" para esta mobilização nacional dos agricultores está ligada ao facto de o Governo pretender extinguir as direções regionais de agricultura para as integrar nas CCDR"s. "Querem acabar com estes serviços que dão apoio direto ao agricultor e colocar as verbas que se destinam à agricultura ao serviço dos poderes camarários e das CCDRs que não têm nenhuma ligação àquilo que é a complexidade da política agrícola, às suas exigências e acham que vão chegar ali e utilizar o dinheiro como quiserem. Ora, isso não é possível", diz.

Esta é uma das razões para a manifestação acontecer em Mirandela, onde está a sede da direção regional de agricultura e pescas do Norte, que ficou sem diretora regional, Carla Alves, secretária de Estado da Agricultura por um dia. Luís Mira diz que este é um exemplo da "fraca capacidade política" da atual ministra da Agricultura. "Normalmente um diretor-geral ou um secretário de Estado é nomeado no dia a seguir e já assaram mais de 15 dias e não se conhece o novo titular da pasta", lamenta o dirigente da CAP. "Lembro que o Ministério da Agricultura já chegou a ter três secretários de Estado, atualmente não tem nenhum e logo num ano em que mais precisava deles porque nunca teve um desafio para execução de verbas como tem agora", acrescenta.

Luís Mira também vai avisando que o novo plano estratégico da PAC 2023-2027 tem tido uma série de decisões erradas e se não houver mão firme nas negociações por parte do Governo, os agricultores vão receber menos compensações financeiras. "Temos de ajustar as políticas às necessidades do país o que ainda não foi feito e se nada mudar, a maioria dos agricultores portugueses vai perceber que vai receber menos de compensações", afirma.

A manifestação de agricultores está agendada para as dez da manhã, em Mirandela, com a concentração junto ao recinto onde decorre a feira semanal, depois os agricultores seguem até à sede da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, onde haverá várias intervenções de dirigentes ligados à CAP.

Esta será a primeira de várias ações de protesto agendadas pela CAP. A segunda está marcada para Castelo Branco, no dia 30 de janeiro, e as restantes vão acontecer durante o mês de fevereiro no Ribatejo, Oeste e Alentejo.