Sociedade

Já é possível visitar "a casa mais bonita do Porto" e fazer prova de vinhos no final

Rui Carvalho Araújo/TSF

O Palacete Silva Monteiro tem as portas abertas, desde sábado, para quem quer fazer uma visita guiada ao edifício que ficou conhecido como "a casa mais bonita do Porto".

Aquela que foi apelidada pelas publicações da época como "a casa mais bonita do Porto" pode agora ser visitada todos os sábados à tarde. São vistas guiadas que terminam com uma prova de vinhos e são dois mundos que se juntam, mas que já estão ligados há quase 80 anos, desde que o edifício se tornou a casa dos vinhos verdes. Ainda assim, a história do palacete remonta ao século XIX.

Foi quando chegou do Brasil, em 1871, que o torna-viagem Silva Monteiro construiu a casa que se estabeleceu como um ícone da cidade. O português viveu em Paris e viajou um pouco por toda a Europa para se inspirar na construção do palacete. Já instalado no Porto, tornou-se diretor do Palácio de Cristal, impulsionou a construção do Porto de Leixões, assim como do caminho-de-ferro até à Póvoa de Varzim e foi ainda vice-presidente da autarquia. Um percurso que não impediu que a casa onde viveu ficasse abandonada depois da sua morte.

Só em 1944, o edifício tornou-se "o centro da parte administrativa da comissão que certifica, promove e controla os vinhos verdes que são vendidos comercialmente", conta Dora Simões, presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes.

Quem passa pela Rua da Restauração não adivinha a riqueza interior do palacete Silva Monteiro. São dezenas de quartos e salas com diferentes propósitos. É possível entrar na sala dourada, com paredes pintadas por Renée Lefèvre, ou na sala chinesa, habitualmente frequentada pelos homens, e depois subir até à sala árabe, reservada para as mulheres.

Apesar da imponente escadaria logo à entrada, Maria Gonçalves, a pessoa que guia os visitantes ao longo dos três andares do edifício, não tem dúvidas em afirmar que "a cereja no topo do bolo" está lá em cima, junto à claraboia. No local existem quatro medalhões, a que se juntam quatro pinturas que resumem a vida do primeiro dono da casa.

Em duas delas vê-se o Rio de Janeiro, "local onde Silva Monteiro viveu quando se mudou para o Brasil", com as representações da Baía de Guanabara e de "um barco a velejar sobre um mar tumultuoso".

Há também referências a Portugal, com a pintura da "igreja de Massarelos e uma perspetiva do rio Douro", assim como a imagem da Torre de Belém. A presença de um elemento lisboeta pode surpreender à primeira vista, mas Marta Gonçalves explica que, no século XIX, "o negócio da importação e exportação entre Portugal e o Brasil era feito maioritariamente entre Lisboa e o Rio de Janeiro". Só depois as mercadorias partiam da capital rumo ao Porto.

Ligado ao comércio internacional, Silva Monteiro conseguiu viajar um pouco por toda a parte. Viveu em Paris, onde se inspirou para construir o palacete, e trouxe de lá também o gosto pela cultura erudita, que ficou eternizada num dos tetos da casa. Sobre as cabeças dos visitantes estão representados compositores, como Gioachino Rossini ou Frédéric Chopin.

Por entre alusões à maçonaria ou à igreja católica, o palacete Silva Monteiro não podia ser considerado como a casa mais bonita do Porto sem ter uma das vistas mais encantadoras da cidade. É a partir do jardim, uma das zonas com maior "esplendor", que se abre uma porta para o Douro.

Um rio que fez parte da vida de Silva Monteiro e que é também o cenário para a prova de vinhos que os visitantes do palacete são convidados a fazer. "O Porto tem uma série de atrações variadas, mas esta casa também pode acrescentar nesse âmbito" do enoturismo, considera a presidente da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes, Dora Simões.

A partir de agora é possível visitar aos sábados o Palacete Silva Monteiro, no Porto. As visitas requerem marcação.