Duzentos jovens cantores de todo o país vão dar música aos peregrinos. O fim de semana foi de ensaios. A orquestra junta-se em maio.
São as datas que todos aguardam com entusiasmo, mas já com alguns nervos à mistura. Os primeiros seis dias de agosto vão ser a prova de fôlego, que vão colocar à prova mais de um ano de trabalho. Quando chegar o tão aguardado momento do arranque da Jornada Mundial da Juventude, já ficaram para trás muitos dias e horas de ensaio para o coro que vai dar música aos peregrinos.
O fim de semana foi de muito trabalho para os 200 jovens de todo o país, que estiveram reunidos em dois dias de ensaio em Lisboa. Até na hora de fazer um intervalo, os acordes e o ritmo dos 50 cânticos que vão marcar as cinco celebrações do evento não deixam de estar em cena. Estes cânticos vão, por exemplo, acompanhar musicalmente os momentos em que o Papa Francisco vai partilhar a jornada com os peregrinos.
É hora do lanche no pátio do colégio que foi palco dos ensaios, mas as cantorias continuam. "Vamos cantar os vocalizes do hino?", pergunta Ricardo.
Alguns estão sentados num banco, outros estão de pé. O grupo de 11 reflete o espírito de partilha e amizade que mostra que os laços que os unem já têm alguns meses. Por entre risos, os sinais de nervos já vêm à tona na conversa. "Mas como somos muitos dá para nos escondermos no meio dos outros", brinca Frederico. "É muita música para ler, muitas pautas para estudar, mas vamos lá chegar", confia Guilherme.
Há quem tenha vindo de muito longe para conseguir participar neste ensaio. É o caso de Laura. "Temos reportório novo em praticamente todos os ensaios. Mas estamos a aprender muito rápido. Estamos muito empenhados em dar o nosso melhor", afirma, com um sorriso nos lábios.
A Jornada Mundial da Juventude faz-se de portas abertas. Em agosto, muitas famílias vão receber os jovens peregrinos que vêm de todas as partes do mundo. Mas as portas já se abriram aos colegas que não são de Lisboa. A porta de casa dos colegas da capital já está disponível para receber Carlos, que mora no Porto. "É uma aventura engraçada. Depois dos ensaios juntamo-nos. Rimos muito. Felizmente ainda não tivemos chamadas dos vizinhos a queixarem-se do barulho", diz.
Viagem pela história da JMJ
"Cantem o "el" no fim. Está cada vez melhor". As indicações são da maestrina de serviço. Fátima Nunes marca o passo. São muitas horas em palco, com um olho nas muitas folhas que compõem o cardápio de partituras e o outro nos jovens cantores. "Queremos muito que chegue o dia. Sinto que estamos num bom caminho. Temos o reportório praticamente todo montado. Há ainda algumas peças em falta, mas ainda temos ensaios para isso. No próximo ensaio, em maio, já teremos orquestra. Já começámos os ensaios em julho. Tem sido um caminho bastante comprido", explica a maestrina.
As horas de ensaio são um verdadeiro partir pedra. Começa, recomeça. É preciso passar a pente fino todas as músicas. A sintonia entre vozes tem de ser perfeita.
"Esta peça, que se chama "Emmanuel", foi o hino da JMJ em Roma, em 2000. Estamos a fazer um medley com os hinos das várias jornadas", explica-nos Sofia, uma das vozes de serviço. A música vai ainda levar os peregrinos até Roma ou Cracóvia.
Para Teresa Cordeiro, coordenadora da equipa musical, o espírito que se quer em agosto é já uma realidade em abril. "Quando a orquestra se juntar às vozes vai ser uma grande emoção", antecipa.
Perguntamos o que sente quando pensa em agosto. Teresa suspira. Sorri, num misto de entusiasmo e nervosismo. Chega a resposta. "É como se esta jornada já tivesse começado para nós. Este é já o quinto ensaio. Em cada ensaio conseguimos sentir bocadinhos de agosto. Quando uma música fica pronta, conseguimos imaginar que estamos lá. E o quão maravilhoso aquilo vai soar. Nós não queremos fazer um concerto. A ideia é termos um milhão de pessoas a cantar connosco."
O evento é mundial, e por isso a atenção mediática vem desde já de todo o mundo. No fim de semana de ensaios, esteve presente uma equipa de reportagem da televisão polaca. Ainda faltam quatro meses, mas a vontade de registar a preparação para um evento que quer fazer história é já muita. Na equipa está Marcel, que vive em Portugal, e que por isso já domina o português.
"Há pressa no ar"
A sua vida já se cruzou com este evento, que quer ser o ponto de encontro da juventude católica. "Sou de Cracóvia. Participei como escuteiro e voluntário na Jornada." No meio do ensaio, o coro dedica longos minutos a ensaiar o hino que marcou a JMJ em Cracóvia. Marcel aprova a versão portuguesa de uma música que simboliza uma experiência que lhe marcou a vida. Marcel teve ainda a missão de traduzir para polaco o hino que em 2023 marca a Jornada de Lisboa.
Marcel aproveita a presença no ensaio para mostrar aos jovens como soa a música em polaco. "Vocês têm muitas vogais. Para cantar é super fixe. Super fácil." Marcel lá canta o hino em polaco, enquanto as gargalhadas vão chegando do público. Do polaco, passamos ao português.
Até ao verão, há ainda muitos ensaios pela frente. Mas este coro garante que entre 1 e 6 de agosto, em todo o país, há uma música que vai soar mais alto. "Há pressa no ar", assim chama o hino do evento deste ano. O refrão sai com pujança e está na ponta da língua. "Todos vão ouvir a nossa voz. Levantemos os braços! Há pressa no ar. Jesus vive e não nos deixa sós. Não mais deixaremos de amar", cantam.
O hino chega ao fim, e o entusiasmo ganha vida através das palmas. A maestrina dá ordem para que os cantores descansem e possam sentar-se. "Foram só vinte minutos a cantar", repara. "Bravíssimo", remata. Há ainda muitos pormenores para limar, mas esta música está fechada. Já não precisa de mais ensaios.