Sociedade

"O cravo é resistente. É uma boa metáfora do 25 de Abril"

Sónia Santos Silva/TSF

Se não passa o 25 de Abril sem um cravo na mão, o mais certo é, este ano, pagar mais pela flor que se tornou símbolo da revolução de 74. Os custos de produção duplicaram, mas o preço não deverá aumentar na mesma proporção. Numa estufa, em Vila Chã, no concelho de Esposende, não houve oferta para toda a procura.

As mãos de Silene, funcionária de nacionalidade brasileira com um mês de casa, dobram o fio de metal até ficar em forma da letra U. São muitos metros para cortar e moldar, sem conhecer o simbolismo da flor que a rodeia.

"Não conheço a história do cravo. Sou brasileira e estou em Portugal há apenas um ano. Mas gosto muito da flor, acho muito bonita."

Luís Marcolino, e a mulher, Cláudia Fernandes, dedicam-se à produção de cravos há mais de dez anos. A flor do 25 de Abril ocupa quase metade da área plantada, na estufa situada em Vila Chã, no concelho de Esposende.

"O pico da produção do cravo é em maio e junho. Nesta altura, e devido à procura dos cravos vermelhos por causa do feriado, o cravo foi cortado num ponto mais fechado para conseguir responder aos pedidos feitos."

Os cravos são juntos em molhos de vinte. Uma semana antes do dia da Liberdade vendem-se centenas e há, até, pedidos que ficam a zero por falta de produto. Luís Marcolino refere que nem o aumento do custo de produção esmoreceu a procura.

"Há produtos que aumentaram cem por cento, mas nós não refletimos esse aumento no preço do cravo."

Símbolo da revolução a que deu nome, o cravo tem em Abril o ponto alto.

"Agora, o cravo vermelho é mais caro. Assim que passa o feriado ficam todos ao mesmo preço."

Ao contrário de outras flores, o cravo pega todo o ano, sendo que é uma flor com os seus caprichos.

"É uma cultura bastante exigente em termos de mão de obra. Exige muitos procedimentos."

Cláudia retira do caule algumas folhas, "par não enfraquecer o botão principal" e Luís explica que o tutoramento do cravo também é necessário, "temos de guiar".

Na estufa não está visível um arco-íris de cores. As pétalas dos cravos ainda estão fechadas no botão da flor. No dia da Liberdade saem à rua.

"Eu levo um um ao peito. O cravo é resistente. É uma boa metáfora do 25 de Abril."