A aula é improvável, mas já conquistou um fiel grupo de alunos. Todas as semanas durante 40 minutos o exercício principal é um: rir, rir e rir.
O programa é diverso, e vai do oito ao 80. A manhã de aulas a que a TSF acompanhou na Universidade Sénior do Parque das Nações é feita de um currículo que quer agradar a todos os gostos. Primeiro, a aula de espanhol. Os professores assumem esse papel só durante o tempo da aula. Depois vai também ser a vez deles aprenderem. Mas naqueles 45 minutos são eles quem está ao comando.
Escutam-se músicas em castelhano, e os alunos lá vão tentando replicar algumas das palavras e das frases. O quadro está cheio de palavras, num paralelo entre como se escreve em português e como se escreve em espanhol. A aula acaba. Alguns alunos ficam, outros vão à sua vida. Lá fora já esperam os que vieram só para a aula seguinte.
Também à espera está a professora Letícia. É ela quem vai estar ao comando da aula que se segue. Chama-se ioga do riso. A aula de espanhol é dada como encerrada, e está tudo pronto para que as gargalhadas comecem a ecoar sem fim.
As mesas e as cadeiras que na hora anterior serviram para a aula de espanhol são desviadas para os cantos da sala. Os professores de espanhol estão agora ao lado dos alunos. "Bom dia", diz Letícia. "Vamos juntar exercícios do riso com técnicas de respiração do ioga. Vamos fingir a nossa gargalhada até que se torne genuína", desafia a professora.
"Partimos do facto científico de que o nosso cérebro não distingue o real do imaginário. Então mesmo que estejamos a fingir o riso, ele já vai produzir todos os benefícios, o que vai contribuir para aumentar a oxigenação de todo o nosso organismo. E agora é rir". Está tudo lançado para que os risos não mais parem durante longos minutos.
O desafio repete-se durante 40 minutos. Se um estranho batesse à porta errada e entrasse na sala pensaria que alguém teria contado uma piada capaz de gerar tamanha risada. Mas neste caso não é bem assim. A gargalhada faz bem à saúde e pode ajudar a libertar preconceitos.
"Somos educados que rir em público não é muito bonito. Alguns alunos têm algumas crenças relativamente ao riso e, por isso, às vezes é difícil vir aqui rir simplesmente pelo prazer de rir. Há muito a ideia de que as mulheres não podem rir de boca aberta. Não é bonito. Tudo isso está marcado. Há quem leve uma vida inteira com essa regra, chegue aqui e perceba que afinal pode rir assim, que faz bem. Às vezes custa essa libertação", explica a guia de gargalhadas.
Letícia Pinto dá estas aulas como voluntária. Também é professora na Universidade Sénior de Vila Franca de Xira. As folgas e o tempo livre são dedicadas aos outros que, em pouco tempo, passam de estranhos para compinchas de boa disposição. O ioga do riso é uma das disciplinas mais recentes, mas desde 2014 que a Universidade Sénior do Parque das Nações acolhe, semestre após semestre, os alunos que, estando aposentados, querem aprender e fazer o que não puderam fazer durante décadas de vida.
Voltou a alegria de outros tempos
Por aqui, são mais as mulheres do que os homens. A universidade tem 60 alunos, mas a aula da manhã recebe dez pessoas. Ao início a gargalhada custa a sair, mas bastam poucos minutos para que rir deixe de ser uma obrigação para passar a ser um prazer. "Muito bem, muito bem, yey!", é a frase mágica de alegria que vai pontuando os exercícios.
Cada um ri-se de uma forma muito própria. O riso e a alegria de Neuzeli destacam-se. Com esta aula, voltou a alegria de outros tempos, como nos conta no seu português com açúcar. "Eu adoro a miúda. Ela faz a gente rir. Fico rindo. Saio daqui com dores", conta, enquanto aponta para as bochechas. "Eu tinha-me esquecido disto, de que tinha um riso fácil", confessa. O semestre tem servido para reavivar a memória.
Atualmente, o ioga do riso está presente em mais de 50 países, e tem vindo ao longo dos anos a conquistar cada vez mais participantes. Nasceu em 1995 pela mão de Madan Kataria, um médico de família indiano. É por isso que as raízes indianas também dão sinal de vida na aula.
A aula já vai a meio quando se começa a ouvir uma música ao estilo bollywoodesco. A partir daqui, o riso junta-se à dança. Os alunos, que têm entre 50 e 80 alunos, vão andando de um lado para o outro.
A maioria mora na freguesia do Parque das Nações, mas há quem venha de mais longe. É o caso de Filomena. Todas as semanas atravessa o Tejo para não perder estas aulas.
"Moro do lado de lá do rio. Gostei do programa, vim para experimentar e acabei por ficar", explica. Manuela está ao lado, e tem um acrescento na ponta da língua. "E agora gosta de nós também", completa. Foi aqui que nasceu a amizade entre as duas.
"Vamos almoçar fora, visitamos museus. Tudo ajuda a criar uma amizade e um convívio que é bom para nós. Para não nos sentirmos sozinhas", conta Manuela. O semestre está quase a acabar. Manuel tem mais um comentário na ponta da língua. "Isso é que é mau. Mas mesmo durante as férias encontramo-nos."
Do riso nascem amizades
No canto da sala está Evelise. Não está a participar na aula, mas de vez em quando vai esboçando um sorriso. A mesa está cheia de papelada e cadernos. As mensagens vão chegando ao telemóvel, e a resposta tem de ser dada em poucos minutos. É assim a vida de uma das mestres que tem a responsabilidade de garantir que a máquina funciona sem problemas. "Não é uma tarefa pequena. Mas vamos fazendo a nossa parte para garantir que todos os semestres conseguimos ter um programa interessante e diferente", relata a responsável pela gestão quotidiana da universidade.
No final de contas, são já todos família. Evelise dá um exemplo. "Uma das alunas convidou toda a universidade para ir a Aveiro à sua casa. Achei um máximo como é que uma aluna faz esse convite a 40 pessoas. E lá vamos nós em breve a Aveiro".
A aula está quase a chegar ao fim, mas ainda há tempo para discutir com riso. "AHAHA, EHEHE, IHIHIH, OHOHO, UHUH", lá se vai ouvindo. São as últimas risadas dos próximos meses, pelo menos no que diz respeito a estas aulas.
A universidade vai de férias, e os alunos só voltam depois do verão. Mas na hora da despedida, há uma missão que fica por cumprir. Na mochila destes alunos, vai um espírito mais leve e animado, mas também um trabalho de casa. "O trabalho de casa, já sabem, é rir um minuto por dia pela paz mundial", pede Letícia. Os alunos parecem ser cumpridores. Prometem treinar nas férias.