Mundo

Decretar estado de emergência em França é "politicamente difícil", diz vereador português da Câmara de Paris

Os protestos em França destruíram carros e autocarros Jeff Pachoud/AFP

"Noutras alturas, outros governos esperaram sete, oito, nove, dez dias antes de o fazer", disse Hermano Sanches Ruivo.

O vereador português da Câmara Municipal de Paris, Hermano Sanches Ruivo, explicou esta sexta-feira, em declarações à TSF, que tomar decisões como decretar o estado de emergência em França é "politicamente sempre difícil" por afetar milhões de pessoas. Para "acalmar a situação", propor um "estado de urgência ou um recolher obrigatório no maior número possível de espaços" são as opções mais viáveis para o vereador da autarquia parisiense.

"Noutras alturas, outros governos esperaram sete, oito, nove, dez dias antes de o fazer. Portanto, está forçosamente na mente do Presidente e do Governo essa realidade histórica", sublinhou.

Hermano Sanches Ruivo disse ainda que a França está a assistir a um "alastramento de uma situação de distúrbio" e que a "frustração" das pessoas é demonstrada através da violência que o país tem vivido nos últimos dias.

"Porquê a pilhagem de supermercados, de lojas? Porquê incendiar edifícios, queimar autocarros bons? São duas situações que estão a conviver no mesmo tempo e as alastrar", afirmou Hermano Sanches Ruivo.

Para o vereador dos assuntos internacionais das autarquias, importa também compreender porque é que "muitos jovens" estão envolvidos nas ações de protesto.

"A fratura social que nós conhecemos, que existe em vários países, tem aqui uma demonstração muito forte", sublinhou Hermano Sanches Ruivo.

O vereador considerou que "é importante o Governo reagir e os municípios continuarem a ter a proposta de recolher obrigatório", mas que o "divórcio entre a polícia e a juventude são problemas muito mais importantes, que até aqui nunca obtiveram a solução".

Os protestos em Paris queimaram e destruíram vários autocarros e, por isso, os meios de transporte de Paris têm estado condicionados, em particular a partir das 21h00.

"Os condutores têm o direito de deixar de trabalhar se acharem que estão em situação de perigo", disse Hermano Sanches Ruivo.

A morte do jovem Nahel de 17 anos, num controlo de trânsito na terça-feira, captado pelas câmaras de vigilância, fez regressar a tensão entre jovens e a polícia nos bairros sociais em Nanterre, arredores de Paris, e noutros bairros desfavorecidos da capital francesa.

Os confrontos contra as forças de segurança surgiram logo na noite de terça-feira em Nanterre.

O agente da polícia suspeito da morte do jovem, acusado de homicídio, foi detido e vai ficar em prisão preventiva. Na quinta-feira, pediu "perdão" à família da vítima.

O presidente francês, Emmanuel Macron, convocou já e para esta sexta-feira uma nova reunião de crise e encurtou a presença em Bruxelas, onde se encontra a participar numa cimeira europeia, para regressar a Paris.

*Com Guilherme de Sousa

TSF