Sociedade

"Vacada" polémica volta ao Instituto Superior de Agronomia

Adelino Meireles/Global Imagens

A iniciativa levantou muita polémica no ano letivo passado, com o Bloco de Esquerda e o provedor do Animal de Lisboa a questionarem a sua realização.

O Instituto Superior de Agronomia (ISA) volta este ano a realizar a tradicional vacada no acolhimento aos caloiros.

Em maio, perante os protestos, a iniciativa acabou por ser cancelada, mas a Associação de Estudantes alega que na "vacada" não há maus tratos a animais e que está a tratar de todas as licenças com a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) para que, desta vez, não surja qualquer problema.

A contestação e o cancelamento do evento no mês de maio, na opinião do presidente do ISA, deveu-se, em grande parte, a "má comunicação" por parte da Associação de Estudantes. "Falavam em mesa de tortura e pensava-se logo que era tortura a animais", conta António Guerreiro de Brito. "Não era, é um jogo que eles [alunos] fazem entre eles", explica. "Portanto, a comunicação foi péssima", acrescenta.

A vacada é uma das muitas iniciativas organizadas pela Associação de Estudantes do ISA para acolher os novos alunos. Este ano, para que não surjam problemas, a associação garante estar a tratar de todas as licenças necessárias com a DGAV e, desta forma, a escola permitirá a sua realização. As vacas bravas utilizadas estão habituadas a participar em eventos do género e vêm de uma ganadaria especializada. Depois, no campus do Instituto de Agronomia, os animais são largados num pequeno recinto. "E depois há algumas pessoas, os alunos, que tentam brincar com elas, e elas correm atrás deles", explica o presidente do ISA.

Os estudantes garantem que não há maus tratos a animais e António Brito assegura que só assim autoriza esta tradição da escola que já leva muitas décadas. "Os alunos fazem isto com a melhor das intenções", garante. "Para eles é um ato simbólico e têm preocupações com o bem-estar animal", assegura, acrescentando que "este ano nomearam entre eles um provedor do animal" para garantir que tudo corre bem. "Para mim isso é importantíssimo, não queremos fazer nada que cause stress aos animais."

De qualquer forma, o presidente do Instituto Superior de Agronomia afirma que o pensamento da sociedade vai evoluindo e que podem existir críticas legítimas a esta tradição, mas, por enquanto, pesando os prós e os contras, o evento tem autorização para se realizar.

A presidente da Associação de Estudantes lembra também que aquela é uma faculdade de agroindústrias e que os alunos são os primeiros a pensar no bem-estar animal. Garante que pretendem fazer a iniciativa do modo mais transparente possível e que todos os trâmites estão a ser tratados com a DGAV. A TSF contactou a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, até agora sem resposta.

Provedora do animal gostaria que iniciativa não se realizasse, mas se DGAV aprovar está dentro da lei

A Provedora do Animal considera que a sociedade tem que evoluir e deixar de fazer espetáculos com animais, mas admite que, se todos os requisitos forem respeitados, a iniciativa está dentro da lei. "Desde que os animais tenham sombra, água, e o espetáculo for num determinada espaço de tempo e regulado pela DGAV", acrescenta.

Laurentina Pedroso sublinha que "tem que haver o cumprimento da lei no âmbito do bem-estar animal".

"Se me pergunta sobre o meu ponto de visto pessoal, acho que as tradições são o que são e vão mudando", enfatiza. "Nós hoje temos tantas outras coisas com que nos entretermos que, sinceramente, não vejo porque não há alternativas a fazer espetáculos com animais", exclama.

A vacada do Instituto Superior de Agronomia vai realizar-se na próxima semana, dia 22 de setembro, e anualmente é das iniciativas mais aguardadas e participadas no acolhimento aos caloiros.