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"Quem arrisca a vida no mar não invade." Papa pede solução para crise migratória no mediterrâneo

O papa escutou uma jovem que afirmou que o mediterrâneo tem sido "uma cena de crime contra a humanidade" Pedro Correia/Global Imagens (arquivo)

Sobre os imigrantes, Francisco sublinha que são pessoas e não apenas números, defendendo, por isso, que é necessária uma mudança de atitude, para que os migrantes não sejam tratados como um problema, mas como "irmãos".

O papa Francisco pediu este sábado uma resposta europeia para a crise migratória no mar mediterrâneo, que defende que deve ser um "laboratório de paz", sublinhando que "quem arrisca a vida no mar não invade, procura acolhimento".

O apelo surge numa altura em que alguns países da Europa recorrem cada vez mais a muros nas fronteiras, a repatriamentos e há suspeitas de bloqueios navais para impedir a entrada de novo fluxos de refugiados.

O chefe da Igreja Católica defende que o "alargado mar da Galileia", que é o mediterrâneo, "convida a opor à divisão dos conflitos a convivência entre as diferenças".

Francisco afirma ainda que os governos europeus têm de fazer mais para ajudar aqueles que procuram ajuda, atravessando o mediterrâneo.

O papa propõe que o mar onde confluem os cinco continentes seja um "laboratório de paz" com vista a um pensamento "comunitário da humanidade, porque o sonho bélico sempre constrói à volta do passado e não se edifica no futuro".

Sobre os imigrantes, Francisco sublinha que são pessoas e não apenas números, defendendo, por isso, que é necessária uma mudança de atitude, para que os migrantes não sejam tratados como um problema, mas como "irmãos", cuja história é conhecida.

Antes deste discurso, o papa escutou uma jovem que afirmou que o mediterrâneo é um "mar de fraternidade", na conferência encontros do mediterrâneo, que se realiza este sábado em Marselha, em França.

A jovem que falou a Francisco considerou, ainda, que vivemos, na atualidade, um mediterrâneo que não é só um cemitério, "é uma cena de crime contra a humanidade".

Francisco, que tem lamentado, em várias ocasiões, que o Mediterrâneo se tenha tornado "o maior cemitério do mundo", confirmou a sua visita há meses, mas esta acontece precisamente num momento em que a Itália enfrenta mais uma vez um número crescente de migrantes que partem em frágeis barcos vindos da Tunísia.

Marselha é uma das cidades mais multiculturais, multirreligiosas e multiétnicas das margens do Mediterrâneo, sendo há muito caracterizada por uma forte presença de migrantes que vivem juntos numa tradição de tolerância.

A agência nacional de estatísticas francesa INSEE indica que havia mais de 124 mil migrantes numa cidade de 862 mil residentes em 2019, ou seja, cerca 14,5% da população.

Desta fatia, quase 30 mil eram argelinos e milhares da Turquia, de Marrocos, da Tunísia e de outras ex-colónias francesas em África.

José Milheiro com Cláudia Alves Mendes