Política

Costa despede-se com apoio a Pedro Nuno, achegas a Marcelo e garante: "Podem ter-me derrubado, mas não me derrotaram"

António Cotrim/Lusa

Num discurso de que a emoção foi tomando conta, António Costa desejou a Pedro Nuno Santos todo o apoio necessário para resolver "a crise política que agora foi criada" e lamentou que o Presidente da República não "deixe fazer" a regionalização.

António Costa sai de cena, mas deixa uma garantia: não vai derrotado. Foi assim que o até aqui secretário-geral do PS se despediu, esta sexta-feira, do cargo num discurso de abertura do 24.º Congresso Nacional do PS em que deixou recados à direita, achegas ao Presidente da República e palavras de apoio ao sucessor no cargo, Pedro Nuno Santos.

"Será o primeiro primeiro-ministro nascido depois do 25 de Abril", atirou confiante perante os socialistas na Feira Internacional de Lisboa, deixando o desejo das "maiores felicidades do mundo" a Pedro Nuno Santos depois de uma eleição que mostrou "a vitalidade do PS" pela "pluralidade" das três candidaturas.

A nova geração, defendeu, dá "um novo impulso" ao partido e encontrar "novas respostas para os novos problemas", algo que diz saber que vai acontecer com o novo líder.

"Sabemos que temos um Presidente que não nos deixava fazer a regionalização"

Virando-se para o ciclo de governação que agora acaba, Costa destacou o PS como "partido da concórdia" em momentos difíceis na vida do país e que "nunca faltou nos momentos mais difíceis", o que lhe permite "rasgar novos horizontes".

Desde logo, deu o exemplo da criação da geringonça, em 2015, que abriu as portas a um novo panorama político e a uma queda de "muros que nunca mais voltarão a existir", garante.

O primeiro-ministro destacou também os trunfos da sua governação na área do ambiente, com Portugal "a ser o país mais bem preparado na UE para atingir a neutralidade carbónica", algo que disse só ser possível "pelas boas políticas da governação".

Noutras áreas, e apesar da existência de novas causas para abraçar, Costa garantiu que as "causas antigas" não são esquecidas, como "o reforço da dignidade de todos os cidadãos no momento da morte", referindo-se à morte medicamente assistida.

Sobre a regionalização, deixou uma achega a Marcelo Rebelo de Sousa argumentando que o Governo "avançou até onde pode".

"Sabemos que temos um Presidente que não nos deixava fazer a regionalização, mas fizemos até onde podíamos fazer", atirou.

"O diabo não veio porque o diabo é a direita e os portugueses não devolveram o poder à direita"

Na defesa das "contas certas" e do aumento dos salários e das pensões, Costa sublinhou que "o diabo não veio, não veio e não veio", e explicou o porquê, arrancando um aplauso geral: "O diabo não veio porque o diabo é a direita e os portugueses não devolveram o poder à direita."

Nessa senda, disse, o progresso continuará "se a direita não vier para desfazer o que está a ser feito" e destacou que a Segurança Social é sustentável e o abandono escolar precoce diminuiu. Já o Serviço Nacional de Saúde "tem muitos problemas", mas Costa lembra que o orçamento aumentou 72% depois da Covid-19.

"Há problemas? Claro que há, mas é para isso que estamos cá, é o PS que vai resolver os problemas", acrescentou.

"É possível fazer melhor, mas só o PS poderá fazer melhor do que o PS"

Continuando na retrospetiva, lembrou os incêndios de 2017, "que muito doeram", mas reforçou a aposta do PS na reforma da floresta.

Pelo lado económico, reconheceu que os jovens "sentem uma grande injustiça pelos salários", mas destacou que o PS "não pede os jovens para emigrar", mas sim que "construam o futuro" do país. "Se tivessem chegado ao marcado de trabalho quando a direita governava, não haveria IRS Jovem e os jovens pagariam tudo o que tinham a pagar", notou.

A devolução do valor das propinas a quem entra no mercado de trabalho foi outro dos argumentos de Costa para defender que o Governo "não desistiu" dos mais novos.

O primeiro-ministro admitiu, no entanto, que "é possível fazer melhor, mas só o PS poderá fazer melhor do que o PS".

A despedida emocionada e a recusa da derrota

Já a entrar na reta final do discurso, e a deixar-se conquistar pela emoção, Costa pediu "apoio" para Pedro Nuno resolver e lançou um "muito obrigado" pela confiança depositada em si, falando de uma "grande honra por ter liderado o maior partido autárquico".

"Governar não são só coisas boas e o partido sempre me deu apoio. Deram-me apoio quando foi difícil evitar as sanções a Portugal. Deram-se sempre apoio durante os anos da pandemia", lembrou, garantindo-se "certo que esse apoio será dado a Pedro Nuno Santos" para resolver "a crise política que agora foi criada", numa nova achega a Marcelo Rebelo de Sousa.

A fechar, despediu-se de Luís Patrão "pelo extraordinário papel na direção do partido e deixou quatro agradecimentos: a Ana Catarina Mendes e a Duarte Cordeiro, que coordenaram as campanhas de Costa, a Mariana Vieira da Silva por ser número dois do Governo e à "mulher Fernanda" que "merecia ser militante honorária do PS", corrigindo depois, a rir, para "da JS".

"Bom, juntos ganhámos todas as eleições nacionais que travámos. Foram vitórias do PS", atirou, antes do golpe final: "Podem ter-me derrubado, mas não me derrotaram. Não derrotaram o PS, está aqui vivo e rejuvenescido."

Francisco Nascimento