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Catarina Martins à TSF: “Maria Luís não teve o escrutínio necessário”

“Não temos um problema de excesso de população, temos é racismo e políticas que usam os imigrantes como bodes expiatórios", diz Catarina Martins Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

A eurodeputada destaca o “desequilíbrio em termos de género, com muito mais homens do que mulheres”, na constituição do colégio de comissários

A menos de duas semanas da audição da comissária nomeada para a pasta dos assuntos financeiros, no parlamento europeu, a eurodeputada do Bloco de Esquerda, Catarina Martins é muito crítica de Maria Luis Albuquerque, afirmando que a portuguesa não está à altura da idoneidade requerida para as funções europeias.

Esta semana, o Parlamento Europeu publicou as respostas escritas ao questionário prévio remetido pela comissão de assuntos económicos e financeiros. Catarina Martins afirma que há questões por esclarecer, que espera ver respondidas a 6 de novembro, dia da audição parlamentar de Maria Luís Albuquerque.

“Maria Luís Albuquerque não teve o escrutínio necessário”, afirmou a eurodeputada Catarina Martins, referindo, a título de exemplo, que a comissário nomeada “deu poucas informações sobre as empresas de serviços financeiros com quem teve relações profissionais”. 

O seu envolvimento com clientes não está claro”, sublinhou Catarina Martins, lamentando que “mesmo assim, houve um acordo entre os sociais-democratas, onde está o Partido Socialista, e o Partido Popular Europeu, onde está o PSD e o CDS, e a extrema-direita que aceitou todos os candidatos a comissários”. 

“Na audição, espero que estas questões políticas sejam debatidas”, enfatizou a eurodeputada do Bloco de Esquerda, criticando a ação de Maria Luís Albuquerque “que privilegiou sempre o sistema financeiro em detrimento da população portuguesa”, e, assim, entende que “não há razão para acreditar que não fará o mesmo a nível europeu”.

Maria Luís Albuquerque tomou decisões políticas erradas e criou crédito malparado que beneficiou empresas como a Arrow Global, para a qual foi trabalhar”, sublinha Catarina Martins, reiterando que “o histórico” de Maria Luís “levanta sérios conflitos de interesses”.

Sobre a constituição do futuro colégio de comissários, a eurodeputada destaca o “desequilíbrio em termos de género, com muito mais homens do que mulheres”. 

“Além disso, Ursula von der Leyen retirou as questões sociais da Comissão Europeia [e] termos como ‘emprego’ desapareceram, e as ‘questões sociais’ foram transformadas em ‘questões de mercado’”, lamentou a eurodeputada, para quem “o portfólio dos comissários reflete uma mudança que é muito preocupante”.

Em entrevista à TSF, a eurodeputada Catarina Martins lamenta também as discussões a nível europeu para facilitar os retornos de migrantes e a criação de campos e de locais de alojamento nos chamados países seguros, considerando que a discussão aborda um “eufemismo”, que, de acordo com a deputada, no final, o que pretende é a “deportação de pessoas”.

“O retorno para países seguros é um eufemismo que acaba por resultar em deportações em massa para países mais pobres”, vincou, dando como exemplo “a proposta da Itália com a Albânia”

Na mais recente cimeira europeia, a 17 de Outubro, Itália defendeu um plano que prevê a criação de campos de deportação fora da União Europeia, para alojar migrantes irregulares, concretamente na Albânia. O plano apresentado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, foi apoiado por países como a Dinamarca ou os Países Baixos, mas teve a oposição de outros países, como, por exemplo, de Espanha.

O presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, manifestou forte oposição a esta abordagem, defendendo que a imigração é essencial para a Europa, e criticou as políticas que visam o endurecimento das fronteiras e as deportações em massa. 

Por outro lado, o chanceler alemão, Olaf Scholz pressionou por reformas da política de asilo, apelando à implementação rápida de novas medidas sobre o asilo até junho de 2026. Scholz enfatizou a importância de avançar rapidamente com as reformas do pacto de asilo, com o objetivo de melhorar a distribuição de refugiados entre os países membros e garantir uma gestão mais eficiente da crise migratória.

Na entrevista à TSF, a deputada Catarina Martins considera que o que é preciso são “políticas de entrada seguras, que permitam a integração regular das pessoas na União Europeia”. 

Não temos um problema de excesso de população, temos é racismo e políticas que usam os imigrantes como bodes expiatórios. Nós recebemos oito milhões de ucranianos sem problemas, mas agora ficamos aflitos por números muito menores. O problema é o racismo. Precisamos de investimento nos serviços públicos, habitação e paz”, enfatizou a eurodeputada, apontando que “se a União Europeia continuar a apoiar os senhores da guerra, mais pessoas tentarão chegar à Europa”.

João Francisco Guerreiro