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"Rejeitamos firmemente as acusações." Rússia nega interferências nas eleições na Geórgia

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov Maxim Shemetov/EPA

A presidência da Geórgia aludiu a uma "operação especial russa" nas eleições legislativas do país, mas o Kremlin reforça que "as acusações são totalmente infundadas"

A Rússia rejeitou esta segunda-feira as acusações que descreveu como "totalmente infundadas" de que teria interferido nas eleições de sábado na Geórgia, como alegou a oposição pró-europeia do país do Cáucaso.

"Rejeitamos firmemente tais acusações. Não houve qualquer intervenção. As acusações são totalmente infundadas", afirmou o porta-voz do Kremlin (presidência), Dmitri Peskov, citado pela agência francesa AFP.

De acordo com os resultados quase definitivos divulgados esta segunda-feira, o Sonho Georgiano, no poder desde 2012, obteve 53,92% dos votos, contra 37,78% da coligação da oposição.

A oposição acusa o Sonho Georgiano, do oligarca Bidzina Ivanishvili, de aproximar a Geórgia da Rússia e de a afastar de uma possível adesão à União Europeia (UE) e à NATO, dois objetivos consagrados na Constituição do país.

Tanto a oposição como parte da comunidade internacional, incluindo observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), manifestaram dúvidas sobre a transparência do processo.

A presidente da Geórgia, Salome Zurabishvili, que rompeu com o Governo, também questionou o resultado das eleições e alegou que o país foi vítima de uma "operação especial russa".

O porta-voz do Kremlin questionou se era da competência de Zurabishvili "reconhecer ou não as eleições".

Peskov disse que as acusações contra Moscovo são frequentes e limitou as eleições a "uma questão interna da Geórgia", segundo a agência espanhola Europa Press.

O porta-voz do Kremlin pediu ainda que "nenhum país interfira" na Geórgia, uma antiga república soviética.

Numa breve declaração que fez aos jornalistas no domingo, a Presidente georgiana não apresentou quaisquer provas para sustentar a alegação de interferência russa no processo eleitoral.

Zurabishvili aludiu a uma "operação especial russa", que descreveu como "uma das novas formas de guerra híbrida" levada a cabo contra a Geórgia.

"Como única instituição independente que resta neste Estado, quero dizer que não reconheço esta eleição. Não pode ser reconhecida. Seria o mesmo que reconhecer a entrada da Rússia aqui, a subordinação da Geórgia à Rússia", afirmou.

"Não vamos tolerar isto. A Geórgia não pode ser privada do seu futuro europeu", acrescentou Zurabishvili, citada pela Radio Free Europe/Radio Liberty, com sede em Praga, a capital da República Checa.

A chefe de Estado apelou para a realização de protestos de rua a partir do fim de tarde desta segunda-feira.

O antigo presidente Mikheil Saakashvili, atualmente preso e rival de Ivanichvili, apelou também a "manifestações maciças" para mostrar ao mundo que os georgianos estão "a lutar pela liberdade".

A Geórgia, com cerca de 3,7 milhões de habitantes, tem sido palco de manifestações nos últimos meses contra o Sonho Georgiano.

O partido governamental afirmou esta segunda-feira que continua a ter como prioridade a integração europeia, em resposta à oposição pró-ocidental.

"Tudo será feito para que a Geórgia esteja plenamente integrada na UE até 2030", declarou o primeiro-ministro, Irakli Kobakhidzé, aos jornalistas em Tblissi.

A UE pediu uma investigação sobre alegadas "irregularidades eleitorais".

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que mantém laços estreitos com Moscovo, é esperado esta segunda-feira na Geórgia para uma visita de dois dias, no que é visto como uma afronta à UE.

A Hungria exerce atualmente a presidência rotativa do Conselho da UE.

A visita inesperada levou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, a afirmar esta segunda-feira que Orbán "não representa a União Europeia".

Antes de invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Rússia exigiu garantias que tanto a Ucrânia como a Geórgia nunca integrariam a UE e a NATO (sigla inglesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte). Tais exigências foram recusadas pelas duas organizações.

TSF/Lusa