Política

Costa vê Europa "sob ataque da direita populista e democrática" (e deixa caderno de encargos para futuro)

António Costa tem mantido o recato desde a dissolução do Parlamento. As eleições legislativas são a 10 de março e os cargos europeus também mexem em setembro.

António Costa alerta que a Europa "unida, coesa e social" está "sob ataque" pelo avanço da extrema-direita, mas também pela direita democrática "que se deixa condicionar". Ao receber o Prémio para os Valores Europeus do Partido Socialista da Catalunha, o ainda primeiro-ministro destacou as políticas socialistas e deixou um caderno de encargos para o futuro da União Europeia.

Desde 15 de janeiro que António Costa tem mantido o recato, depois da dissolução da Assembleia da República, mas não fugiu ao discurso na Catalunha, galardoado com o prémio “pelo papel como referência da esquerda europeia e do europeísmo” dos socialistas catalães.

O discurso de António Costa, depois de receber o prémio das mãos de Salvador Illa, líder do PSOE catalão, terminou com a canção de Zeca Afonso “Grândola, Vila Morena”. E o tom de discurso do ainda primeiro-ministro encaixou que nem uma luva na escolha musical.

“Esta nossa visão da Europa está sob ataque, da direita populista, mas também da direita democrática que se deixa condicionar pelo populismo”, disse. A Europa referida por António Costa assenta na união, solidariedade, coesão e “aberta ao mundo, alargada e aprofundada”.

O PSD enquadra-se na “direita democrática” de que fala António Costa, que se deixa condicionar, em Portugal, pelo Chega. Colar o PSD a André Ventura foi uma das estratégias do primeiro-ministro na campanha para as legislativas de 2022 e, mais recentemente, falou até “num um efeito pandémico" do populismo.

"Crescimento económico, emprego e subida do salário mínimo"

Em meio hora de discurso, António Costa puxou também pelas políticas socialistas que “viraram a página da austeridade” em 2015. Em Portugal, mas também em Espanha, há agora “crescimento económico, mais emprego e subida do salário mínimo”.

“Os europeus viram o desemprego a descer e o emprego a subir. Viram uma aposta no diálogo, na concertação social e uma sociedade de convivência. Viram uma prioridade no combate às desigualdades, refletida em aumentos históricos dos salários mínimos”, acrescentou.

Ficou também patente um caderno de encargos para o futuro da União Europeia, embora António Costa deixe o cargo de primeiro-ministro em março, pedindo um mecanismo permanente de resposta a crises e o reforço do pilar social europeu.

Novo brexit? "Não queremos mais"

Está também na hora de um novo alargamento dos estados-membros, não só à Ucrânia, mas também aos Balcãs Ocidentais, mas o aviso fica feito: “Para que um novo alargamento seja de um sucesso, precisamos de reformar a Europa, a sua arquitetura institucional e orçamental”.

“Temos de ter a inteligência de nos compreendermos uns aos outros. Se não queremos ter novos Brexit’s. Bem podemos dizer que o Brexit foi um erro para o Reino Unido, mas foi uma perda para todos os europeus. E não queremos mais”, reforçou.

António Costa discursou ainda com o fato de primeiro-ministro, a menos de um mês das eleições legislativas antecipadas que vão designar o seu sucessor em São Bento. Em junho há também eleições para o Parlamento Europeu, para um novo mandato que se inicia em setembro, e António Costa é um dos nomes apontados a um futuro cargo na Europa.

Francisco Nascimento