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Prato do Dia. Gambrinus, em Lisboa

Hugo Coelho/Global Imagens

Estão desde já convidados para a experiência sideral de uma refeição muito saudável no Gambrinus, em plena baixa lisboeta. Além de ter o balcão mais cobiçado da capital, é o local indicado quando quer conferir os pratos do nosso imaginário, confrontando-os com a versão autêntica. Está aqui a cozinha portuguesa mais cobiçada, por ser aquela que todos achamos que sabemos fazer, mas que, no fundo, aqui é executada de forma sublime, e nós nem sonhamos como lá chegar.

Comecemos pela simplicidade de uma omelete com gambas, um prato que deixou de circular como especialidade entre os especialistas e que muito poucos executam como deve ser. Ainda dentro de cenário entrante, damos com o vezeiro e muito raro cocktail de gambas, acontecimento sempre feliz, e vieiras com caviar de arenque, execução excelente. O quadro fica completo com amêijoas à Bulhão Pato, apropriação ilícita da inefável preparação do chef João da Mata por um poeta de parcas letras, estamos todos proibidos de utilizar vinho no glorioso molho que dá nome ao prato por isso mesmo.

Nos peixes confesso-me pecador pelo quanto desejo o linguado com alcaparras, ligação excelsa da mesa com o mar, ou o cherne gralhado com molho tártaro, que timidamente e mal vejo executar pelas mesas ditas marítimas, e as lulas fritas à andaluza, que só aqui atingem estatuto de excelência, maravilhosos anéis sápidos e crocantes.

Nas carnes, a minha gula e memória exigem-me os fígados de aves com maçã e o rim com vinho Madeira, pratos que outrora eram executados à nossa frente, na gloriosa cozinha de sala que acontece no carro. Outra fantasia que sempre sobe ao intelecto é o rosbife frio à inglesa, de que já encontrei registos de banquetes por terras de França da responsabilidade - imagine-se - do grande Abade de Priscos.

Aproveito a oportunidade para entrar no doce domínio das sobremesas, onde reina o pudim do mesmo nome, juntamente com outras duas, a trouxa de ovos e os crepes suzete, sem par no país inteiro. E há mais. No mundo tão incerto como é aquele em que vivemos, é bom saber que Segunda é dia de filetes de peixe dourados e empadão de perdiz. Quarta há sopa rica de peixes. E Quinta é dia de eisbein - joelho de porco - com choucrute. Assim como é bom poder continuar a contar com o Gambrinus como referência.

Fernando Melo