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Prato do Dia. Solar do Forcado, Portalegre

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No casario antigo de Portalegre, mora uma certa nobreza gastronómica de pergaminhos ainda por explorar e a que todos damos o valor de verdadeiras relíquias. Luís Mourato detém aqui um pedaço precioso da cidade de outrora, que bebe da grande tradição petisqueira, conventual e de sobrevivência. Entramos numa casa de óbvia evocação taurina, ou não estivesse a atividade de forcado inscrita no próprio nome.

Os petiscos aqui são diferenciados e raramente encontramos sequer parecidos noutras paragens com esta qualidade. Caso, por exemplo, da cabeça de xara, a preparação secular da cabeça do porco migada e prensada que exige mão segura nos temperos, e que dificilmente encontramos com a genuinidade caseira que aqui encontramos. São brilhantes os pastéis de alheira, acompanhados por uma deliciosa maionese de coentros. Vem uma latinha para a mesa com os sempre oportunos pedacinhos de toucinho frito, crocância salgada que é bem-vinda na etapa inicial de uma refeição, inspirada nos torresmos.

Nesta casa de bons costumes à mesa prepara-se uma delícia que dá pelo nome de batatas tapadas, fortemente inspirada nos ovos rotos, com uma base de cebolada, batata frita e ovos estrelados. Outra iguaria que não deve passar despercebida é a presa ibérica fumada. Trata-se de um corte que depois é sujeita à cura do fumo e que fica fortemente valorizada em sabor e textura. Há uma espetada de touro bravo com cerca de dez dias de maturação que é um regalo para os sentidos, daquelas que nos faz ir por impulso em vezes subsequentes, quase configurando guloseima. Tenrura a toda a prova, pedaços escolhidos com cuidado e sobretudo muito sabor.

Muito raros e igualmente saborosos são os rins de porco ibérico - mais conhecido por porco preto - que são como sabemos muito exigentes em termos de pureza e tratamento em cru. Sobretudo é fundamental que não exista qualquer contaminação por impurezas de areias ou químicas. Estes são perfeitos e provavelmente representarão para muitos inteira novidade.

Nesta acolhedora casa de evocação tauromáquica não falta bacalhau e há um cachaço do fiel confitado em azeite que é imperdível. Chegamos à secção doce da ementa e damos com um curioso vaso de mousse de chocolate 64% de cacau, trabalho inefável de consistência e cremosidade, com o rigor que se espera.

E há o fartes, doce profundamente enraizado na história do convento de Portalegre e que é maravilhoso. Muito para desbravar e conhecer na próxima visita.

Fernando Melo