Em declarações à TSF, o presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil defende que o poder político deve fazer uma reflexão aprofundada e o Parlamento deve rever a Lei de Bases da Proteção Civil
O incêndio na Madeira começou há uma semana e a situação está longe de estar controlada, algo que exige uma reflexão sobre o que correu melhor e pior no combate às chamas. À TSF, o presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil, Duarte Caldeira, considera que houve uma "falha de avaliação política", uma vez que se perdeu demasiado tempo antes de ser feito o pedido de apoio ao continente.
"Houve aqui, seguramente, do nosso ponto de vista, uma falha de avaliação. Dito isto, este reforço que agora é solicitado e que era expectável que viesse a ser necessário, a única dúvida que fica é por que razão é que não terá sido remetido para o território da Região Autónoma da Madeira uma força mais significativa, mais robusta, para poder permitir um maior apoio nas operações que estabelecer desencadeadas na Região Autónoma da Madeira", afirma, em declarações à TSF, considerando que houve uma avaliação política "deformada e absurda".
"Houve o desejo de retardar o mais possível o pedido ao continente, tendo em conta, provavelmente, estas questões de caráter lateral de ordem política que vêm a afetar a vida dos cidadãos da Região Autónoma da Madeira", sublinha.
O presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil defende que o poder político deve fazer uma reflexão aprofundada e o Parlamento deve rever a Lei de Bases da Proteção Civil.
"Não faz sentido que, declarado que seja o plano regional de emergência, seja necessário, a pedido das autoridades regionais, agilizar uma força de apoio e socorro para o território de uma das regiões autónomas pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil. Ou seja, esta questão do pedido dá ideia de que, às vezes, não estamos no mesmo país e, portanto, se a lei de bases da Proteção Civil clarificar de uma forma mais evidente que, em determinadas circunstâncias e na presença de tipologias que justifiquem o acionamento de meios, independentemente dos pedidos da região, eu creio que se ganha tempo sempre em qualquer circunstância. Parece-me que chegou à altura de isto ser refletido em sede da Assembleia da República, que é quem tem competência para refletir e aprovar a Lei de Bases da Proteção Civil", explica.
Para Duarte Caldeira, apesar de todos os problemas identificados, há um dado positivo a reter: a "ausência de vítimas humanas e animais" mostra a "eficácia e eficiência com que tem sido desenvolvida a operação de deslocação prévia".
O incêndio rural na Madeira deflagrou há uma semana, dia 14 de agosto, nas serras da Ribeira Brava, propagando-se na quinta-feira ao concelho de Câmara de Lobos, e, já no fim de semana, ao município da Ponta do Sol.
Nestes oito dias, as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à exceção da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos, e da Furna, na Ribeira Brava.
O combate às chamas tem sido dificultado pelo vento, agora mais reduzido, e pelas temperaturas elevadas, mas não há registo de destruição de casas e infraestruturas essenciais.
Três bombeiros já receberam assistência hospitalar por exaustão e sintomas relacionados com "mal-estar e indisposição", não havendo mais feridos.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, indicados pelo presidente do Serviço Regional de Proteção Civil, António Nunes, apontam para 4.392 hectares de área ardida até às 12h00 de terça-feira.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, diz tratar-se de fogo posto.