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"Vulto mais importante da cultura portuguesa." Grupo de cidadãos lança petição para salvaguardar casa de Almeida Garrett

Miguel Ribeiro/ Global Imagens (arquivo)

O grupo vai reunir-se este domingo em protesto contra a eventual transformação do imóvel de interesse público em mais um hotel

Um grupo de cidadãos e artistas do Porto vai reunir-se este domingo à tarde junto à casa onde nasceu o escritor Almeida Garrett, no centro histórico da cidade, em protesto contra a eventual transformação do imóvel de interesse público em mais um hotel.

Em comunicado, a companhia portuense Teatro Plástico refere que na manifestação será lançada uma petição exigindo a classificação e salvaguarda do edifício e a criação da Casa Garrett - Casa Museu e centro de estudos garrettianos.

"Nesta jornada cultural múltipla e plural vamos evocar este grande vulto da cultura portuguesa e, em simultâneo, fazer o lançamento de uma petição exigindo a classificação e salvaguarda do edifício", sublinha a companhia teatral, em nome de um "alargado grupo de cidadãos e artistas portuenses".

Explica que esta tomada de posição surge na sequência da informação de que "o atual proprietário recebeu parecer positivo da Câmara Municipal do Porto (CMP) a um Pedido de Informação Prévia para Licença de Obras de Edificação de Hotelaria (29 quartos) e Restaurante (51 lugares)".

Em declarações à TSF, o historiador do Porto Hélder Pacheco defende a preservação da casa, sublinhando a importância de Almeida Garrett na cultura e política portuguesa. "Almeida Garrett é o vulto mais importante da cultura portuguesa de todos os tempos, foi um homem que, além de inventor do teatro nacional e da sua atividade como romancista, como grande poeta, teve uma atividade política, ele foi o braço direito e o mentor ideológico do Passos Manuel, que teve um dos melhores governos que Portugal já conheceu até hoje", explica à TSF Hélder Pacheco.

O historiador considera que a casa de Garrett "deveria representar uma espécie de Panteão nacional em sua honra, por tudo aquilo que ele fez pelo país". "Além disso, Garrett tinha um profundo amor ao Porto", sublinha.

Na concentração desta tarde será lido um texto de Hélder Pacheco. O historiador quer que o Ministério da Cultura siga o exemplo de outros países europeus, preservando a casa onde nasceu Almeida Garrett.

"Noutro país europeu, eu estou convencido de que a casa já teria sido expropriada em nome do bem comum. Isto era inaceitável noutros países europeus e eu acho que era isso que o Governo devia fazer. Não vamos brincar com estas coisas. Era fazer uma avaliação independente da casa e depois simplesmente expropriar a casa em função do interesse público e a câmara instalar lá um centro de estudos garrettianos", sugere, acrescentando: "Nós hoje ainda devemos muito à figura do Garrett, sobretudo no campo político."

Localizada no número 39, da Rua Dr. Barbosa de Castro, no Porto, a casa onde nasceu Almeida Garrett "constitui o último e mais relevante testemunho urbanístico nacional da sua vida", considera a organização do protesto.

"Como bem cultural imóvel, é um marco da história e identidade portuense e portuguesa, constituindo-se como local ideal para a criação de um espaço museológico de valorização da enorme obra de Garrett bem como do Liberalismo e Romantismo portugueses, tal como já foi aprovado por unanimidade pela CMP em 2019", sustenta.

Trata-se de "um local simbólico ligado a um ícone maior da cidade do Porto e da cultura portuguesa e que aparece não apenas em todas as publicações garrettianas, como vem mesmo identificado em diversos mapas e documentos 'on-line' como espaço museológico", acrescenta.

O protesto, que decorrerá entre as 15h00 e as 19h00, visa também celebrar "o grande autor e vulto da cultura portuguesa" na véspera dos 170 anos da sua morte.

Haverá leitura de excertos de toda a obra por atores e público e depoimentos de personalidades da vida cultural portuguesa, assim como uma feira do livro sobre Garrett e os autores do romantismo português e sobre o Liberalismo, a decorrer na Escola Artística Árvore.

Do programa faz também parte música com uma tuna académica, a evocar os tempos de estudante em Coimbra, a atuação do rancho folclórico do Porto, para evocar o autor do Romanceiro e o grande etnógrafo e folclorista e uma instalação na fachada da Casa Garrett.

Nas palavras do historiador Hélder Pacheco, citado no comunicado, "com a perda da casa da rua do Calvário [atual rua Dr. Barbosa de Castro], perde o Porto a oportunidade de nela criar um lugar de divulgação, consagração e celebração da vida e da obra de Garrett, o maior vulto portuense e, provavelmente, da cultura portuguesa".

Notícia atualizada às 11h05

TSF/Lusa