Sociedade

"Há estrangeiros que vêm diretamente do aeroporto para as urgências do SNS"

Há até países com "sites com tutoriais" sobre como vir para Portugal para obter cuidados de saúde Leonardo Negrão / Global Imagens

Administradores hospitalares confirmam a existência de grupos organizados que trazem turistas para serem tratados gratuitamente

O presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) confirma que há estrangeiros que procuram o Serviço Nacional de Saúde (SNS) português para terem tratamentos gratuitos e que " o número tem aumentado".

Na audição da ministra da Saúde esta quarta-feira no Parlamento, ressalvando que a situação não dizia respeito aos imigrantes que cá residem e trabalham, um deputado da Iniciativa Liberal questionou Ana Paula Martins sobre o assunto. Mário Amorim Lopes afirmou que há até países com "sites com tutoriais" sobre como vir para Portugal para obter cuidados de saúde, e que essa situação poderá custar "centenas de milhões de euros" ao  Estado. A ministra afirmou ter conhecimento da existência deste fenómeno e Xavier Barreto confirmou-o também à TSF

O presidente da APAH não quer falar em " redes organizadas", mas diz que "há grupos e sites que promovem a vinda destas pessoas de forma organizada" para receberem tratamento no SNS." Nós temos relatos de pessoas que vão diretamente do aeroporto para o hospital", garante. Xavier Barreto considera que os hospitais são confrontados perante situações difíceis e que não podem negar os cuidados de saúde a quem chega a uma urgência. "Uma grávida que entra em trabalho de parto, mas que não é utente do SNS, como é que se responde a esta situação?", questiona. " O que hospitais optam por fazer é não deixar a pessoa desamparada", adianta.

Xavier Barreto acredita que o que está a falhar é a cobrança por parte do Ministério da Saúde aos países de origem dos cidadãos estrangeiros, " através das embaixadas ou dos consulados ", e " isso é uma pergunta que deve ser colocada ao governo". O presidente da APAH sugere que se faça uma relação de todos os atos médicos que são prestados  a cidadãos de outros países, para posteriormente fazer a cobrança a esses países.

O presidente da Associação dos Administradores Hospitalares admite que por vezes é difícil perceber quem são os imigrantes que cá vivem  e trabalham mas não têm a sua situação regularizada, e os estrangeiros que vêm de fora propositadamente procurar os cuidados do SNS.

A porta de entrada destes cidadãos estrangeiros é sempre pelas urgências dos grandes hospitais das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. "Não é expetável que alguém venha para ser atendida num hospital do interior ou periférico", acredita." Os partos de mães não portuguesas nalguns hospitais já atingem 10%, 20% ou mais", assegura.

Xavier Barreto lembra o caso de uma doente estrangeira que não tinha número do Serviço Nacional de Saúde e que, depois de ser atendida na urgência de um hospital, teve posteriormente uma consulta de acompanhamento. Nessa situação " já era um caso programado e, constatando que ela não era utente [do SNS] e não tinha nenhum seguro, nesse caso pedimos o pagamento", lembra. Nesses casos," o hospital pode e deve exigir a cobrança",adianta.

No Parlamento a ministra da saúde afirmou que será um feito um estudo pela academia para analisar esta situação.

Maria Augusta Casaca