Em declarações à TSF, Henrique Tomé, da corretora XTB, explica que o segundo mandato de Donald Trump veio agitar os mercados, sobretudo por usar "a questão da guerra comercial quase como arma de chantagem para algumas economias"
Há precisamente cinco anos o mundo vivia uma pandemia de Covid-19. Numa altura em que tudo parecia mudar, nem mesmo a economia conseguiu ficar imune. O sintoma da sua debilidade apresentou-se na forma de uma das maiores quedas de sempre na bolsa de valores. Atualmente, vive um "período de incerteza", mas o responsável pela sua agitação é outro.
A descida foi a pique durante várias semanas desde o final de fevereiro de 2020. A economia só viria a apresentar os primeiros sinais de melhorias a partir de 19 de março desse mesmo ano, provando pela primeira vez desde então estar capaz de começar a recuperar.
"Em 2020, na altura da pandemia, acabamos por assistir a uma das maiores quedas dos últimos anos, motivados pela questão dos confinamentos e o facto de a economia, de repente, ter quase paralisado. Isso impactou logo diretamente os mercados." Quem o diz é Henrique Tomé, da corretora XTB. Em declarações à TSF, o analista recorda que os mercados financeiros abanaram, mas as famílias e empresas resistiram com a ajuda da descida das taxas de juro. Os bancos evitaram mesmo um colapso económico e, na sua opinião, agiram de forma correta. Só que a esta equação veio juntar-se depois a inflação.
"As medidas que foram tomadas na altura pareceram as mais certas. Nos dias de hoje, vemos que pode ter sido exagerado e, nesta parte, acho que é mais a questão dos bancos centrais que pode ter sido aqui a peça chave", entende.
E, se fosse hoje, uma pandemia teria os mesmos efeitos nas bolsas? Henrique Tomé é taxativo e garante que "não", até porque, se isso acontecesse, "já não seria um evento imprevisível uma vez que já aconteceu no passado algo semelhante".
Cinco anos depois da Covid-19 - valem os ensinamentos das crises passadas -, a inflação está ainda acima do desejado. A economia está resiliente, mas a dar sinais de abrandamento e o segundo mandato de Donald Trump veio agitar os mercados.
Neste ponto não seria novidade o facto de Trump querer voltar a colocar a América como principal poeira. Apesar de continuar a ser o maior bloco económico, quer colocar a América num patamar ainda superior e tem pesado a questão da guerra comercial, até quase como arma de chantagem para algumas economias
Trump marca então a agenda e os mercados reagem mal, trazendo "incerteza" ao setor.
"Os mercados odeiam períodos de incerteza e desde o início do ano que se está a refletir bastante esta incerteza: os mercados têm estado a descontar nas quedas", aponta, ressalvando que nem todas as correções são "motivadas pela questão das tarifas, mas acaba por ajudar".
"Neste momento, estamos num período em que a Europa já tem os principais motores económicos a abrandar muito. Temos o caso alemão em recessão", alerta.
Ainda assim, o índice de ações alemão DAX este ano está a subir mais 16%. Já no caso americano, o indicador S&P está a cair 4% - ainda que já tenha valorizado "mais de 118%" - e, no caso das tecnológicas mais voláteis, vemos o NASDAQ a cair 6%.
"O bom desempenho deste ano acaba por ser ainda mais notório quando olhamos para os últimos cinco anos, contando com o fundo que observamos na altura da pandemia, em 2020", sublinha.
O analista da corretora X TB Henrique Tomé nota que, apesar do cenário de incerteza, os mercados financeiros têm sabido reagir.
"Tivemos momentos muito semelhantes, onde o mercado corrigiu à volta de 10%, por vezes um bocadinho mais, outra vezes um pouco menos. Mas estas correções até são saudáveis", considera.
Conclui, por isso, que o mercado está preocupado, mas não desesperado e acredita que essa é a "melhor forma" de olhar para o setor.