Portugal está bem posicionado na corrida para a neutralidade carbónica, mas a transição energética exige um equilíbrio fino entre inovação, investimento e competitividade. A primeira mesa redonda do ciclo “Energia em Movimento” lançou o debate.
A iniciativa, promovida pela TSF e pelo JN, arrancou a 27 de maio com uma mesa redonda dedicada ao tema “O Caminho para a Transição Energética”. Entre as 15h e as 16h, três vozes com peso no setor juntaram-se à jornalista Ana Maria Ramos para discutir os desafios e as oportunidades da descarbonização em Portugal. Luís Nunes (PRIO), Rui Santos (Beyond Fuels) e Jorge Antunes (Tecnoveritas) analisaram o papel das energias renováveis, os incentivos públicos e as soluções tecnológicas que podem acelerar a transição.
Biocombustíveis: a mudança silenciosa que já está nas estradas
Apesar de discretos aos olhos do público, os biocombustíveis são hoje o principal motor da descarbonização da mobilidade. Rui Santos destacou que os 7% de incorporação obrigatória no gasóleo (o “B7”) representam 98% da redução de emissões no setor. A proposta é clara: subir a percentagem para B10 ou mais, como já se faz noutros países, para ampliar o impacto sem alterar hábitos nem infraestruturas.
A transição energética em Portugal exige equilíbrio entre inovação e realismo. O futuro será híbrido, e o debate já começou.
Indústria e transporte marítimo: onde a transição é mais pesada
Jorge Antunes falou das dificuldades no setor naval, onde a modernização de navios com biocombustíveis enfrenta resistência técnica e prazos apertados de execução. Luís Nunes sublinhou a importância de manter a competitividade das empresas, defendendo soluções ajustadas à realidade de cada setor. Ambos concordaram que não há tecnologia única: o futuro passará por combinações adaptadas, eficientes e economicamente viáveis.
Também se abordou a dependência crescente da eletricidade. A ideia de um sistema baseado exclusivamente nesta fonte foi criticada por expor o país a novos riscos. Um mix energético — com elétrico, biocombustíveis e combustíveis sintéticos — foi defendido como via para uma transição segura, sustentável e inclusiva.
Outro ponto em destaque foi o papel da regulação. Os intervenientes concordaram na necessidade de uma maior estabilidade legislativa e de uma política de incentivos mais ágil e eficaz. Criticaram a rigidez dos apoios do PRR, que excluem muitas soluções operacionais por não se enquadrarem em investimentos de capital. Defendeu-se uma abordagem mais prática, que valorize o impacto imediato das tecnologias e não apenas a inovação teórica.