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Pelo fim do "sexismo sanitário", Amesterdão vai investir quatro milhões de euros em casas de banho públicas

Há nove anos, Amesterdão tinha 35 casas de banho públicas para homens e apenas três para mulheres John Thys/AFP

Durante nove anos, várias mulheres dos Países Baixos lutaram para ter mais casas de banho públicas.

Vão existir mais casas de banho públicas em Amesterdão, nos Países Baixos, a partir de outubro. Não se sabe o número exato, mas o investimento será de quatro milhões de euros. É o resultado de vários esforços em nome da "igualdade para urinar".

Tudo começou numa noite de 2015, quando, no caminho para casa, Geerte Piening precisou de ir à casa de banho. Não podia ir até um bar, porque já estavam fechados, e a instalação sanitária pública mais próxima ficava a dois quilómetros de distância. As circunstâncias não lhe deram outra opção: agachou-se num beco, acabando por urinar num sítio público. A polícia viu e a jovem foi multada em 140 euros.

“Para homens, havia muitos urinóis perto, mas eu não podia ir a lado nenhum urinar”, explicou, citada pelo jornal britâncio The Guardian. Há nove anos, Amesterdão tinha 35 casas de banho públicas para homens e apenas três para mulheres, algo que, por seu lado, "também afeta as pessoas com deficência".

Dois anos após este episódio, Piening foi presente a tribunal e a multa foi reduzida para 90 euros. O juiz teceu considerações sobre o caso, afirmando que, apesar da falta de instalações, a jovem deveria ter utilizado um sítio destinado ao sexo masculino. “Pode não ser agradável, mas é possível”, garantiu.

Piening considerou "ridícula" a sugestão do juiz e o movimento "Power to the Peepee" ("Poder para urinar") desafiou as mulheres de todo o país a demonstrar as "(im)possibilidades de urinar num lugar público construído para homens". Algumas pessoas chegaram mesmo a publicar fotos, nas quais mostravam "ambiciosas posições de ginástica" numa tentativa de cumprir as palavras do juiz, também de acordo com o The Guardian.

Entre quem aderiu à luta contra o "sexismo sanitário" estava Ilana Rooderkerk - que na altura era vereadora da cidade de Amesterdão.

Rooderkerk, hoje deputada no parlamento dos Países Baixos, trabalhou em conjunto com Piening para apresentar à capital neerlandesa legislação para expandir o número de casas de banho públicas. Com o tempo, surgiram algumas mudanças, como, por exemplo, a colocoção de casas de banho portáteis nos parques durante o verão e a autorização para as pessoas irem a locais como esquadras e quartéis de bombeiros em caso de necessidade.

Agora, nove anos depois, a vitória chegou com o anúncio de que a partir de outubro vão existir novas instalações sanitárias. Para Piening, este tempo foi um "teste à paciência". E, também, um curso intensivo sobre a organização das cidades, edificadas numa época "em que se esperava que as mulheres permanecessem em casa". "Acho que a cidade é construída principalmente por e para homens. Por isso, não é surpreendente que só existam urinóis para eles", considerou ainda.

TSF