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Estudantes pró-Palestina: "As universidades sempre foram espaços políticos e continuarão a sê-lo"

Mohammed Badra/EPA

"Devemos lembrar que a questão não é quem apoia quem: os estudantes mobilizam-se porque têm acesso à informação, têm acesso ao que está a acontecer atualmente em Gaza", diz uma estudante em França.

As autoridades francesas intervieram na Universidade Sorbonne Panthéon, em Paris, para evacuar estudantes pró-palestina que instalaram tendas no interior da Universidade. A região Ile de France anunciou a suspensão do financiamento da Sciences Po Paris, um montante de cerca de um milhão de euros, previsto para 2024.

Depois da evacuação do acampamento organizado por estudantes na Science Po, em apoio à Palestina, foi a vez dos estudantes da Sorbonne se reunirem para uma mobilização em frente à Universidade.

Dezenas de estudantes manifestaram na Sorbonne, erguendo uma bandeira da Palestina. "Devemos lembrar que a questão não é quem apoia quem: os estudantes mobilizam-se porque têm acesso à informação, têm acesso ao que está a acontecer atualmente em Gaza. As imagens que nos chegam são sórdidas: são milhares de pessoas mortas e massacradas por bombas", descreve Lisa, estudante na Sorbonne.

A estudante também denuncia a violência das autoridades contra os estudantes que manifestam nas universidades; "Achamos lamentável toda a repressão e toda a violência perante estas mobilizações nas universidades. Quando sabemos que a Presidente da Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne assinou um abaixo assinado a pedir que as universidades sejam espaços neutros, as universidades nunca foram neutras, sempre foram espaços políticos e continuarão a sê-lo".

Emma é estudante na Universidade Paris 4 e também denuncia as sanções a que os estudantes se sujeitam por participar nestas manifestações. "É tempo de o governo tomar uma decisão clara e corajosa em prol da paz, as universidades também devem participar e terminar com as suas parcerias com universidades israelitas. Deve pôr-se um termo a esta repressão massiva contra os militantes que defendem a paz, em particular os estudantes e ativistas que estão a ser ameaçados com sanções disciplinares", lamenta.

O primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, pediu o desmantelamento do acampamento organizado no átrio da Universidade Panthéon-Sorbonne.

A porta-voz do sindicato de estudantes, Éléonore Schmitt, descreve a violência durante o desmantelamento: "Foi uma evacuação muito violenta: houve um acampamento montado pelos estudantes mobilizados por volta do meio-dia… a polícia entrou rapidamente na Universidade e arrancou as tendas, arrastando também os ativistas que estavam lá dentro… o desmantelamento foi feito com muita violência".

A região parisiense, Île-de-France, anunciou que vai suspender o financiamento da Sciences-Po, palco de uma tensa mobilização pró-Gaza na semana passada, “enquanto a serenidade e a segurança não estiverem asseguradas”.

No seguimento destas mobilizações nestas duas universidades históricas francesas, o governo teme que o movimento de estudantes que começou nos Estados Unidos se alastre em França, à medida que o ano académico se aproxima do fim.

Lígia Anjos