Rute Agulhas, coordenadora do Grupo Vita, adianta que as vítimas vão ser ouvidas novamente, no âmbito dos processos de compensação. Ainda assim, não terão de relatar novamente o que passaram, exceto se o caso ainda não estiver documentado
O Grupo Vita assume ter uma "expectativa positiva" em relação à reunião desta terça-feira, em Fátima, com os bispos da Igreja Católica, para discutir uma série de propostas de alteração ao regulamento de pedido e atribuição de indemnizações às vítimas de abuso sexual perpetrados no meio eclesial, nomeadamente no que diz respeito ao prazo em que os pedidos devem ser apresentados.
Desde que o grupo foi criado, já recebeu 53 pedidos de compensação financeira. Rute Agulhas, coordenadora do Grupo Vita, revela, à TSF, que está otimista e vai apresentar um conjunto de propostas, entre as quais, o alargamento do prazo para que as vítimas possam pedir indemnização. Atualmente, podem este pedido fazê-lo até dezembro.
"O Grupo VITA tem uma expectativa positiva, pediu para ser recebido nesta assembleia-geral da CEP, porque nós pedimos recentemente a revisão de alguns procedimentos do regulamento para a atribuição das compensações financeiras - entendemos que existiam alguns aspetos que não salvaguardavam devidamente os interesses das vítimas. Apresentamos as nossas sugestões e vamos hoje à tarde ser ouvidos por esse motivo: queremos prevenir ao máximo a revitimização das vítimas e garantir que são protegidas ao longo de todo o processo", explica.
Rute Agulhas não quis adiantar que outras propostas de alteração foram feitas, entendendo que é "prematuro falar sobre isso", mas acrescenta que as vítimas vão ser ouvidas novamente, no âmbito dos processos de compensação, sem terem, contudo, de relatar novamente o que passaram, exceto se o caso ainda não estiver documentado.
"Quem já relatou, não vai ter de relatar novamente e a pessoa vai ser ouvida, mas para auscultar outras questões. A pessoa não vai ser obrigada, jamais, a repetir aquilo que já disse, seja junto do Grupo Vita, seja junto de uma qualquer entidade da igreja. Agora, esse relato prévio tem é de estar documento", aponta, completando que têm chegado novos casos ao grupo.
Questionada ainda sobre um prazo para que a questão das indemnizações às vítimas fique definida, Rute Agulha sublinha que essa decisão "não depende do grupo".
"Neste momento, estamos focados em garantir que o procedimento garanta ao máximo os direitos das pessoas, que as revitimize ao mínimo e que este processo seja mais transparente, mas também tranquilo e que as pessoas possam confiar e sentir-se confortáveis. Depois há uma segunda comissão de fixação das compensações e esses timings e valores é algo que o grupo VITA não sabe", afirma.
A Conferência Episcopal portuguesa está a discutir de novo a questão dos abusos sexuais. O presidente deste órgão, Jose Ornelas, assegura que esta questão "não terá volta atrás”, assumindo também que as indemnizações têm de ser estudadas.
"Precisamos de manter a atenção constante ao sofrimento das vítimas e a firmeza na formação e na prevenção, bem como na clareza e determinação no tratamento de eventuais casos futuros", disse José Ornelas, no discurso de abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária da CEP, que teve início na segunda-feira em Fátima.
"Temos consciência de que a realidade dos abusos sexuais e os dramas das vítimas que causaram não deixou indiferente nem a Igreja nem a sociedade", afirmou o também bispo de Leiria-Fátima.
O tema dos abusos sexuais vai ser analisado na Assembleia Plenária, mas o bispo José Ornelas não adiantou qualquer pormenor sobre o sentido das decisões a tomar. O grupo Vita é ouvido esta tarde na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, que decorre até quinta-feira.