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Prato do Dia: Casa Álvaro, Valença

Casa Álvaro/Reprodução

Nesta casa chega-se sempre com fome e por muito que se programe a agenda e o GPS, nunca chegamos à hora prevista. Estamos nos cocurutos de Portugal, em Valença, balaustrada virada para a Galiza. É justamente de onde vem a nossa concorrência maior, quando lutamos por um lugar à mesa. Chego sempre pelo menos uma hora antes de abrir e nunca fui o primeiro a ser atendido, mas não quero parecer injusto, a casa tem sempre lugar para todos.

A dimensão é grande e o interior tem várias salas, à maneira da gruta de Aladino. A oferta não podia ser mais simples e a ciência culinária passa essencialmente pela grelha.

Bacalhau, frango e costelinha, é o que há, mas nenhuma de entre as centenas de almas que por aqui passam vem em vão. Basta ver a cara de satisfação com que partem. É notável a sensação de plenitude que se instala quando finalmente nos sentamos à mesa que nos é apontada.

A posta de bacalhau é de primeira água e o processamento nas ardentes brasas é muito inteligente, entendimento que se diria telepático, entre o fiel amigo e o oficiante mestre da grelha. Lasca perfeitamente no prato e é sempre suculento, graças a uma ginástica sistemática que vamos desenvolvendo com o azeite sobre a proteína amornada na travessa. Indaguei e fiquei satisfeito por saber que tanto o bacalhau como o azeite são bem portugueses, e os espanhóis reconhecem a excelência da forma como preparamos e servimos o que é o nosso totem nacional.

O frango grelhado também é elevado ao sacrifício das brasas, e há o cuidado redobrado para que não haja contaminação do sabor. As matérias primas têm tratamento individualizado como se de um spa de luxo se tratasse. Come-se à mão, claro, as peças e os cortes prevêem esse destino nobre e todas têm o mesmo gostinho viciante.

Finalmente, as costelinhas surgem na mesa cortadas a preceito e é neste momento que nos apoiamos na prática petisqueira para explorar alternadamente as batatinhas fritas e os ossinhos que vamos roendo.

As sobremesas são de recorte caseiro e sabem bem para preparar uma das digestões mais felizes das nossas vidas.

Fernando Melo