São poucos os lugares como este, do Velho Mirante, que me fazem viajar no tempo logo que me sento à mesa. É que neste mesmo lugar, entre o Lumiar e a Pontinha, fiz com colegas do instituto de investigação em que trabalhava, inúmeras vezes intervalo de almoço. Ao contrário do que normalmente se aconselha, eu gosto de voltar aos lugares onde fui feliz, e os meus tempos de cientista foram fundadores e felizes.
Comida caseira servida como numa cantina, agitação e muita alegria, eram os motivos principais que nos levavam a passar ali a hora de almoço. Quatro décadas volvidas, circunstâncias diversas levaram-me de novo a esta casa. E que bom que foi! À frente das operações estão Pedro Reis e Fernando Gimenez e deram à casa uma nova alma.
Há um fresco e bem temperado pica-pau de atum, a competir com o vezeiro e usual pica-pau do lombo - que também aqui se oferece -, que nos conquista pela novidade, em ambiente petisqueiro. Das várias outras entradas, recomendo as gambas al ajillo, primorosamente feitas. Intensidade de sabor, o alho e o azeite na proporção perfeita.
Nos pratos de peixe, perco-me em dois. A moqueca de camarão, feita à moda e gosto do Brasil, celebrada também em Angola. Cremosa, aromática e viciante, nunca mais a dispensamos. No extremo oposto, mas igualmente saborosa, a açorda de bacalhau no pão é uma maravilhosa exaltação de portugalidade. Com uns pingos de piripiri, é o céu. Prato que nos eleva ao nível celestial é a fantástica cabidela de frango que aqui se prepara com desarmante simplicidade. O golpe de vinagre aplicado no momento certo é a alma deste prato, que tantos comensais congrega diariamente. Não deixe de provar e conferir. Outra glória do novo Velho Mirante é - imagine! - o bife à portuguesa com batata frita e ovo estrelado. Seleção e corte da carne, ligeira e respeitadora maturação, fritura irrepreensível, devidamente assente no azeite, alho, louro e presunto, molho aprimorado com amor, torna-se obrigatório conferir. Está aqui um tesouro!
Nas doces terminações, recomendo o doce da casa, também aqui chamado delícia de coco, ou o mágico leite-creme. Tudo novíssimo, tudo a estrear, neste Velho Mirante de boa memória.