Entre as vítimas mortais também está o ministro iraninano dos Negócios Estrangeiros.
Vários meios de comunicação estatais iranianos anunciaram esta segunda-feira a morte do Presidente Ebrahim Raisi do ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amir-Abdollahian, numa queda de um helicóptero no noroeste do Irão. O Governo irá realizar uma "reunião de emergência", disse a agência de notícias oficial iraniana Irna, sem revelar detalhes sobre a agenda do encontro.
As equipas de socorro iranianas recuperaram entretanto os restos mortais do Presidente, Ebrahim Raissi, e dos outros oito passageiros que seguiam no helicóptero.
"Estamos a transportar os corpos dos mártires para Tabriz", a principal cidade do noroeste do país, disse o chefe do Crescente Vermelho, Pirhossein Koulivand, à televisão estatal, anunciando o fim das operações de busca.
Após confirmar a morte, o Governo iraniano garantiu que o desastre não irá causar "qualquer perturbação na administração" do Irão.
"O Presidente do povo iraniano, trabalhador e incansável, (...) sacrificou a sua vida pela nação", disse o executivo de Teerão, num comunicado após a primeira reunião desde o acidente. "Garantimos à nossa nação leal, grata e amada que, com a ajuda de Deus e o apoio do povo, não haverá a menor perturbação na administração do país", acrescentou o Governo do Irão.
O helicóptero que transportava Raisi foi localizado numa montanha no noroeste do Irão, anunciaram os serviços de emergência, que admitiram ter pouca esperança de encontrar sobreviventes.
"O helicóptero do Presidente foi localizado. Os serviços de emergência estão a aproximar-se do local do acidente (...) A situação não é boa", declarou o chefe do Crescente Vermelho iraniano, Pirhossein Koolivand.
Também a televisão estatal iraniana admitiu não haver "qualquer sinal" de vida nos destroços do helicóptero, numa altura em que as equipas de salvamento estavam a cerca de dois quilómetros do local do acidente.
O helicóptero que transportava Raisi e Amir-Abdollahian despenhou-se na zona de Kalibar e Warzghan, na província do Azerbaijão Oriental, no noroeste do país.
O acidente deu-se no domingo, quando a comitiva regressava da fronteira com o Azerbaijão, onde Raisi inaugurou uma barragem com o seu homólogo azeri, Ilham Aliyev.
No terreno estão pelo menos 65 equipas de salvamento em operações de busca que estão a ser dificultadas devido ao denso nevoeiro e às fortes chuvas.
A Arábia Saudita, o Iraque e o Azerbaijão ofereceram ajuda a Teerão, enquanto o Presidente norte-americano, Joe Biden, foi informado sobre o incidente, segundo a Casa Branca, que não adiantou mais detalhes.
A Turquia já enviou 32 equipas de salvamento e seis veículos e a União Europeia ativou o serviço cartográfico de resposta rápida Copernicus a pedido do Irão.
Também a Rússia enviou uma equipa de socorro com 47 especialistas, veículos todo-o-terreno e um helicóptero.
Ebrahim Raisi, de 63 anos, um clérigo religioso de linha dura, foi eleito Presidente do Irão em 2021, numa eleição presidencial com a participação mais baixa da história da República Islâmica.
A sua liderança tem protagonizado uma intensificação da repressão contra ativistas, mulheres e críticos do regime.
Vice-presidente do Irão deverá assumir presidência
O primeiro vice-presidente do Irão, Mohammad Mokhber, deverá assumir a presidência após a morte de Ebrahim Raisi, numa altura em que o país se prepara para eleições antecipadas. A Constituição iraniana estipula que o primeiro vice-presidente assume o cargo "em caso de morte, destituição, demissão, ausência ou doença do Presidente por mais de dois meses".
A nomeação interina de Mokhber requer a aprovação do líder supremo do Irão, Ayatollah Ali Khamenei, que tem a palavra final em todos os assuntos do Estado. De acordo com a Constituição, as eleições presidenciais para escolher um sucessor permanente devem ser realizadas no prazo de 50 dias.
Mokhber, de 68 anos, foi nomeado vice-presidente quando Raisi tomou posse em agosto de 2021. O vice-presidente nasceu na cidade de Dezful, na província de Khuzestan, no sudoeste do país, onde ocupou vários cargos oficiais.
Desde 2007, Mokhber presidiu à Fundação para a Execução da Ordem do Imã Khomeini, uma organização governamental encarregada de gerir as propriedades confiscadas na sequência da revolução islâmica de 1979. A fundação, criada na década de 1980, tornou-se, ao longo dos anos, um importante conglomerado económico estatal com participações em vários setores.
Raisi tinha mandato até 2025
Raisi tinha mandato até 2025, era a segunda pessoa mais importante do Irão, depois do aiatolá Ali Khamanei, líder supremo do Irão e de quem o atual Presidente era um protegido e um possível sucessor, segundo alguns, embora no Irão os presidentes não passem a líder supremo. Nunca aconteceu desde a instauração da República Islâmica em 1979.
Apresentando-se como defensor das classes desfavorecidas e da luta contra a corrupção, o ex-aluno de Khamenei nas aulas de religião e jurisprudência islâmica, que fez parte do sistema de justiça durante mais de três décadas, prometeu defender a liberdade de expressão e os "direitos fundamentais de todos os cidadãos iranianos". Foi eleito a 18 de junho de 2021, na primeira volta de umas eleições presidenciais marcadas por uma abstenção recorde e pela ausência de adversários de peso.
Sucedeu ao moderado Hassan Rohani, que o derrotou nas presidenciais de 2017 e já não podia recandidatar-se, após dois mandatos consecutivos. Raisi era da linha dura, ultraconservador, foi eleito em 2021 e tinha mandato até ao próximo ano. Também morreu na queda do helicópetro, Hossein Amir-Abdollahian, nomeado precisamente por Raisi, era o MNE.
Raisi tinha saído reforçado das legislativas realizadas em março. Perante o resultado eleitoral, o agora falecido Presidente iraniano congratulou-se com "mais uma derrota histórica infligida aos inimigos do Irão, após os tumultos" de 2022.
O novo Parlamento iraniano, que entra em funções desta terça-feira a uma semana, após eleições com recorde de abstenção (em Teerão na segunda volta votaram 7% das pessoas, houve 30% de votos nulos) é maioritariamente controlado pelos setores conservadores e ultraconservadores que apoiam o Governo.
Nos últimos meses, Raisi mostrou-se um adversário firme de Israel, apoiando o Hamas desde 7 de outubro, quando começou o conflito na Faixa de Gaza. Em abril, o Irão lançou um ataque inédito a Israel, com 350 drones e mísseis, a maioria deles interceptados com a ajuda dos Estados Unidos e de outros países.
Teerão nomeia Ali Bagheri ministro dos Negócios Estrangeiros interino
O principal negociador nuclear do Irão, Ali Bagheri, vai chefiar a diplomacia iraniana a título provisório, na sequência da morte do ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amir-Abdolahian, num acidente de helicóptero.
Ali Bagheri foi nomeado "chefe da Comissão de Relações Externas do Governo", anunciou hoje o porta-voz do governo Ali Bahadori Jahromi.
A decisão sobre a nomeação de Ali Bagheri ocorreu menos de uma hora depois de o líder supremo do Irão, Ali Khamenei, ter indicado o vice-Presidente Mohammad Mokhber, como chefe de Estado interino. Khamenei decretou ainda cinco dias de luto pela morte de Ebrahim Raisi.
Notícia atualizada às 12h40