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"Doença crónica muito difícil de tratar." Especialistas pedem comparticipação de medicamentos para a obesidade

De acordo com os especialistas, as evidências científicas têm levado à compreensão da obesidade como uma doença crónica, multifatorial, muito difícil de tratar Unsplash

Os doentes com excesso de peso que "tentam obter esta medicação são altamente criticados". Os especialistas alertam para a importância de reduzir o estigma associado à obesidade

A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia pediu esta segunda-feira a comparticipação de medicamentos como o Ozempic para tratar a obesidade e lamentou que os doentes com excesso de peso sejam criticados quando pedem esta medicação.

"É fundamental que estes fármacos sejam comparticipados para o tratamento da obesidade, com evidentes vantagens para a saúde dos indivíduos e para a sociedade no longo prazo", apela a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) num comunicado divulgado a propósito do Dia Mundial da Obesidade, que se assinala na próxima terça-feira.

No documento, a sociedade médica refere-se aos "agonistas GLP1 e GIP, [que incluem o injetável Ozempic] inicialmente apenas disponibilizados para diabéticos, mas agora já com indicação para o tratamento da obesidade mesmo sem diagnóstico de diabetes".

Em Itália, exemplifica a sociedade, esta medicação é disponibilizada a indivíduos com índice de massa corporal superior a 27 Kg/m2, desde que cumpram a dieta e o exercício físico recomendados.

A SPG alerta também para a importância de reduzir o estigma associado à obesidade: "Os indivíduos com excesso de peso ou obesidade que tentam obter esta medicação são altamente criticados, sendo o excesso de peso apelidado de escolha individual".

"A obesidade tem sido tradicionalmente vista como o resultado de um comportamento individual inadequado, associado à falta de disciplina em relação a alimentação e à atividade física. No entanto, as crescentes evidências científicas têm levado à compreensão da obesidade como uma doença crónica, multifatorial, muito difícil de tratar", afirma.

Para a SPG, é necessária uma mudança de paradigma que implica "reconhecer que fatores genéticos, metabólicos, ambientais e psicossociais desempenham papéis cruciais" no surgimento e desenvolvimento da doença.

A sociedade considera que ninguém tem excesso de peso ou é obeso "por vontade própria".

"A obesidade é caracterizada pela impossibilidade de a pessoa conseguir queimar gordura", resultando na sua acumulação excessiva a nível visceral, o que está associado ao desenvolvimento de outras doenças crónicas como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, doenças cárdio e cerebrovasculares, osteoarticulares e várias neoplasias, "patologias que são hoje reconhecidas como as principais causas de morbimortalidade das sociedades modernas", refere.

A obesidade foi reconhecida em Portugal como doença crónica em 2004, mas, segundo a mesma fonte, não são facultadas a estes doentes estratégias de tratamento integradas, com os mais recentes medicamentos disponíveis.

A cirurgia bariátrica/metabólica e procedimentos endoscópicos minimamente invasivos são comparticipados, mas têm listas de espera que, em alguns casos, "ultrapassam os quatro anos" e devem articular-se com dietas, programas de exercício físico e apoio psicológico, afirmam os especialistas.

A SPG critica ainda que algumas intervenções não sejam comparticipadas pelas companhias de seguro, o que classifica como "uma falta de visão de estratégica gritante".

Lusa