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Prato do Dia: Degust’ar, em Lisboa

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Por muito que as modas mudem, jamais me cansarei de apregoar a alto e bom som o privilégio de ser contemporâneo do cozinheiro genial que é o chef António Nobre. Pioneiro na pesquisa e aplicação de ervas aromáticas na cozinha portuguesa. Detentor de um arsenal técnico a toda a prova. E criador de toda uma reinterpretação do receituário alentejano clássico. É o mínimo que se me oferece dizer acerca do homem que assumiu de corpo e alma este espaço em Lisboa, vindo estoicamente de Évora, onde oficia nos hotéis Mar d’Ar.

O restaurante está a ter muito sucesso e, de vez em quando, encaminho-me para lá para estar próximo do amigo António Nobre e matar saudades de alguém a quem todos devemos já muito. Com um cardápio alentejano, é de esperar entradas diversificadas e de grande nível. E cá estão elas. Peixinhos-da-horta com maionese, crocância perfeita, muito sabor, a maionese ao lado, à maneira de dip. Lula fresca na grelha com tártaro de tomate, que me deixa sempre sem palavras pelo trabalho notável de ervas que contém. Farinheira com ovos escalfados e coentros, trabalho prévio sobre o enchido que muito poucos fazem. E ceviche de corvina, obediente aos mais rigorosos cânones da cozinha peruana, também ela raridade.

O departamento de peixe é um bom demonstrador de como se consegue tornar o mar bem presente na mesa alentejana. A sopa de cação é deliciosa e instala uma fantástica impressão de frescura nos muitos passos por que passa nas mãos do genial chef António Nobre. As pataniscas de bacalhau são de tal aprumo culinário que apetece levar uma dúzia para casa. Faz-se aqui um bacalhau assado com batata a murro que é pièce de resistance do nosso herói. Feito sem véus nem disfarces. E há uma massada de peixe com camarão que não há palavras para descrever. Talvez a melhor imagem seja a de mesa posta na rebentação, com um bom vinho branco ao lado.

Nas carnes, estamos igualmente bem. Não deixe de provar as costeletas de borrego e batata wedge, processamento culinário feito no céu, texturas em perfeita simbiose e muito sabor. Gosto muito dos vezeiros lombinhos de porco e migas de espargos, aqui tão superiores às que se encontra em toda a parte. Há um Bife à Degustar Lisboa com batata frita que configura homenagem do chef Nobre à capital. Passamos, além disso, a exigir batatas destas assim primorosas em todo o restaurante que visitarmos.

Simples e fantástica é a mousse de chocolate que aqui se serve. E é brilhante a encharcada conventual. Mas brilhante mesmo é o privilégio de conviver com António Nobre. É um dos meus heróis.

Fernando Melo