Mundo

JD Vance sente-se "insultado" e garante que Cisjordânia não vai ser anexada por Israel

JD Vance Nathan Howard/AFP

O Knesset aprovou na quarta-feira, numa leitura preliminar, um projeto de lei para anexação do território da Cisjordânia ocupado por Israel. O vice-presidente fala, por isso, numa "manobra política muito estúpida"

O vice-presidente norte-americano considerou esta quinta-feira insultuosa uma votação no parlamento israelita (Knesset) sobre a Cisjordânia e reiterou a posição dos Estados Unidos de que o território palestiniano não será anexado por Israel.

"A política da administração Trump é que a Cisjordânia não vai ser anexada por Israel. Essa vai continuar a ser a nossa política", afirmou JD Vance na pista do aeroporto de Telavive, no final de uma visita de dois dias a Israel.

O Knesset aprovou na quarta-feira, numa leitura preliminar, um projeto de lei para anexação do território da Cisjordânia ocupado por Israel, proposto por um partido com apenas um deputado.

A aprovação, por 25 votos a favor contra 24, é apenas o primeiro passo de um processo que terá ainda de passar por mais três votações na assembleia de 120 deputados.

"Se foi uma manobra política, foi uma manobra política muito estúpida e pessoalmente sinto-me insultado", comentou Vance em declarações aos jornalistas, citado pelas agências espanhola EFE, norte-americana The Associated Press (AP) e France-Presse (AFP).

Vance, que aterrou na terça-feira em Israel para supervisionar o plano de cessar-fogo em Gaza, em vigor desde 10 de outubro, não escondeu a irritação com os deputados israelitas.

"Se querem fazer votos simbólicos, podem fazê-lo, mas nós definitivamente não estamos felizes com isso", afirmou.

Durante a visita, Vance anunciou a abertura de um centro de coordenação militar e civil no sul de Israel para a estabilização e a reconstrução de Gaza.

O centro junta cerca de 200 militares norte-americanos, militares israelitas e delegações de outros países, segundo a AP.

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, disse na quarta-feira à noite, antes de partir para Israel, que planeia visitar o centro.

Rubio anunciou também que tenciona nomear um funcionário para trabalhar em conjunto com o principal comandante militar dos Estados Unidos no Médio Oriente, o vice-almirante Brad Cooper.

Os Estados Unidos estão à procura de apoio de outros aliados, especialmente das nações árabes do Golfo, para criar uma força de estabilização internacional a ser destacada para Gaza e para treinar uma força palestiniana.

"Gostaríamos de ver forças policiais palestinianas em Gaza que não sejam do Hamas e que façam um bom trabalho, mas estas ainda têm de ser treinadas e equipadas", afirmou o chefe da diplomacia norte-americana.

Rubio também criticou os esforços de políticos da extrema-direita no parlamento israelita sobre a Cisjordânia.

A votação do parlamento foi saudada pelos dois partidos de extrema-direita que integram a coligação liderada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Apenas um deputado do Likud, o partido de Netanyahu, votou favoravelmente e, com a oposição do primeiro-ministro, parece improvável que o projeto seja aprovado nas várias votações necessárias para se tornar lei.

A votação preliminar simbólica a favor da anexação da Cisjordânia foi vista como uma tentativa de envergonhar Netanyahu enquanto Vance estava no país, segundo a AP.

A Palestina não possui continuidade territorial e, enquanto na Faixa de Gaza governava o braço político do Hamas, na Cisjordânia permanece a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), liderada por Mahmoud Abbas.

Desde o segundo Acordo de Oslo, de 1995, Israel possui o controlo militar e civil da denominada Área C da Cisjordânia, que equivale a 60% do território.

A ANP tem o controlo total da Área A e o controlo civil da Área B, onde reparte com Israel o controlo de segurança.

Além disso, existem centenas de postos de controlo militares israelitas em toda a Cisjordânia.

Também vigora um sistema de licenças que não permite a livre circulação dos palestinianos entre cidades e proíbe a muitos a entrada em Jerusalém.

Cisjordânia foi o nome dado pela Jordânia à margem ocidental do rio Jordão, quando anexou aquela parte do território palestiniano entre 1950 e 1967, ano em que foi ocupada por Israel.

Israel chama-lhe Judeia e Samaria.

Lusa