Na conferência de imprensa do BCE, Christine Lagarde afirmou que "um euro é um euro, tal como uma rosa é sempre uma rosa". A declaração surge após a reunião de governadores, que decidiram manter inalteradas as taxas de juro de referência na zona euro
Para a presidente do Banco Central Europeu (BCE), a decisão de avançar para a próxima fase do projeto euro digital tem como objetivo garantir a prontidão técnica para uma possível emissão e apoiar a soberania digital da Europa, após a adoção da legislação.
Na defesa do euro digital, chegou mesmo a usar a expressão: "Um euro é um euro, tal como uma rosa será sempre uma rosa!" Para Christine Lagarde, "o dinheiro é um bem público e os bancos centrais são os seus guardiões, sendo que o euro digital mais não será do que a forma digital das notas de banco".
Na conferência de imprensa, após a reunião do Conselho de Governadores do BCE, que se realizou na cidade italiana de Florença e decidiu deixar inalteradas as taxas de juro de referência nos 2%, Lagarde sublinhou: "Desengane-se quem pensa que o BCE é contra a inovação. Estamos muito atentos e queremos que a inovação chegue ao dinheiro."
Lagarde realçou ainda que a forma digital do dinheiro é necessária, porque em breve haverá quem não queira usar dinheiro físico, admitindo menos notas em circulação no futuro.
A líder do BCE sublinhou também que o banco está muito atento a outro tipo de ativos financeiros, como as bitcoins, que, considera, são formas privadas de dinheiro, estando a observar "como são criadas, transmitidas e guardadas, concluindo que "não podemos impedir os investidores de criarem dinheiro privado", admitindo algumas discrepâncias entre a Lei Genius (que regula os criptoativos nos Estados Unidos) e o Regulamento MiCA, o seu equivalente na União Europeia.
Sobre o advento da inteligência artificial, assegurou que o retorno que o BCE tem tido do tecido empresarial nos inquéritos que realiza regularmente, é que "as empresas estão realmente a avançar com investimentos e a transição para um mundo mais digital está obviamente nos seus planos, na base dos investimentos que estão a ser feitos agora."
Lagarde adiantou que esse é um processo em curso e o impacto que terá no mercado de trabalho provavelmente levará tempo, mas o banco estará muito atento a esses desenvolvimentos, consciente que haverá criação, mas também destruição de emprego. Questionou mesmo que "como é que isto irá impactar exatamente as nossas economias, dependendo dos setores, das faixas etárias, da formação e do nível educacional da força de trabalho na Europa, que geralmente tende a ser bastante elevado, o que ainda se está para ver."
Não é tempo de "festas" na Europa:
Do ponto de vista da política monetária, Christine Lagarde considera que a Europa está numa boa posição, mas se, é uma posição boa e permanente? Responde que: "não, mas faremos tudo o que for necessário para garantir que nos mantemos numa boa posição."
Realçou que o crescimento de 0,2% no terceiro trimestre, é um pouco acima do esperado pelo consenso geral, o que "incluindo a Irlanda, está um pouco acima do que prevíamos, não muito, mas é um bom sinal."
Quanto à decisão de manter as taxas de juro, Lagarde referiu que esta foi tomada por unanimidade de todos os governadores" num encontro em que pela primeira vez participou Álvaro Santos Pereira, como novo governador do Banco de Portugal e fez questão de sublinhar várias vezes que "a visão sobre a inflação permanece incerta, em particular pelo risco dos conflitos globais e tensões geopolíticas."
Apesar de alguns sinais de abrandamento dos riscos, a presidente do Banco central Europeu considerou que ainda se vive num período de grande incerteza, pois existem riscos que ainda não se materializaram e outros que estão a aumentar.
Pela positiva destacou o acordo celebrado entre os Estados Unidos e a União Europeia, o cessar-fogo no Médio Oriente e o recente acordo entre a China e os Estados Unidos, mas alertou para o aumento de riscos, não só da possível ruptura no fornecimento de matérias-primas, como as mediáticas "terras raras, como o risco da inflação que está a aumentar. Aqui garante que "estamos a monitorizar a composição da inflação, uma vez que houve uma subida de 0,1% nos serviços em setembro. Não estamos perante um risco imediato, mas estamos atentos."
Sobre as condições financeiras e monetárias, a taxa de crescimento anual do crédito bancário às empresas diminuiu ligeiramente para 2,9% em setembro contra 3% em agosto, ao mesmo tempo, a emissão de títulos de dívida abrandou para 3,3% em termos anuais e justificou que "de acordo com o nosso mais recente inquérito sobre crédito bancário na zona euro, os critérios de concessão de crédito para empréstimos empresariais tornaram-se moderadamente mais rigorosos no terceiro trimestre, à medida que os bancos aumentaram a sua preocupação com a análise de risco dos clientes. A procura de crédito por parte das empresas apresentou uma ligeira recuperação."
A taxa de juro média para novos empréstimos hipotecários praticamente não mexeu desde o início do ano. Estava em 3,3% em agosto. O crescimento do crédito imobiliário subiu para 2,6% em setembro face aos 2,5% em agosto, impulsionado por um novo aumento da procura e pela manutenção dos padrões de crédito no terceiro trimestre.
A presidente do BCE deu conta ainda que o crescimento do dinheiro em circulação abrandou para 2,8% em setembro face aos 2,9% em agosto, com uma média de 3,8% no primeiro semestre do ano.
Em novembro não haverá encontro com jornalistas sobre decisões da política monetária do BCE, que remete para a reunião de dezembro, já em Frankfurt, nova decisão sobre taxas de juro de referência, mas Lagarde vai avisando que, qualquer rumo estará dependente dos dados, sem qualquer compromisso prévio com uma trajetória específica para as taxas.