A associação de defesa do consumidor alerta que "é urgente poupar para a reforma". Em declarações à TSF, Natália Nunes, jurista da Deco, aconselha a população a aplicar o dinheiro, tendo em conta o risco, a rentabilidade e a liquidez dos produtos no mercado
A associação de defesa do consumidor Deco disse que é urgente poupar para a reforma, face à previsível queda das pensões, alertando que os agregados familiares reformados têm, em média, quatro créditos ativos, com uma elevada taxa de esforço. Em declarações à TSF, Natália Nunes, jurista da Deco, defende que o Estado devia criar mais condições para que os portugueses conseguissem colocar mais dinheiro de lado.
"É necessário que o Estado contribua para que haja uma cultura de poupança que se perdeu. Perdeu-se muito por entendermos que não é compensador, que não há grande compensação por estarmos a poupar. Mas isso é uma ideia completamente errada, porque a verdade é que o termo de poupança ajuda-nos a fazer face a imprevistos", começa por explicar à TSF Natália Nunes, considerando que o Estado não está a fazer o suficiente para ajudar os portugueses a poupar.
"O Estado deveria ter outra intervenção, o Estado deveria olhar para a poupança, deveria diminuir a carga fiscal que existe relativamente aos produtos da poupança, nomeadamente aos depósitos a prazo e, por outro lado, o Estado também deveria promover a criação de contas poupanças para poderem ser utilizadas pelas famílias, nomeadamente para poupanças de baixo valor."
A jurista Natália Nunes aconselha a população a começar a poupar para a reforma e a aplicar o dinheiro, tendo em conta o risco, a rentabilidade e a liquidez dos produtos no mercado. O importante é não ter o dinheiro parado no banco e o ouro, que tem vindo a valorizar, é uma das formas de o aplicar: "Quem está a aplicar dinheiro em ouro tem visto o valor do seu investimento aumentar."
"Existem várias formas de aplicar o dinheiro, o que é fundamental é que as pessoas o apliquem em produtos que conhecem e que conhecem o risco, a liquidez e a rentabilidade desses produtos. O importante é não ter o dinheiro completamente parado na conta de depósito à ordem, porque aí é que ele não está a valorizar, não está a render rigorosamente nada. Para isso, é importante ter informação e um bom aconselhamento."
A habitação e a alimentação são os principais obstáculos à poupança, num ano em que muitas famílias voltam a não conseguir encher o mealheiro.
"Os portugueses não estão a poupar mais. Em relação a 2024, estão a poupar de forma idêntica e a verdade é que, neste momento, são sobretudo as famílias com rendimentos mais elevados que estão a conseguir poupar. As outras famílias, a classe média e a classe média baixa, neste momento, estão quase estranguladas, sem grande capacidade de poupança", lamenta.
Natália Nunes nota que a habitação e a alimentação "absorvem a maior parte do dinheiro" das famílias. "A verdade é que a habitação está com valores que não param de aumentar e em relação à alimentação a mesma coisa, portanto continua a verificar-se aqui um agravamento do custo de vida", acrescenta.
Num texto enviado à Lusa, a propósito do Dia Mundial da Poupança, que esta sexta-feira se assinala, a Deco realça que "poupar para a reforma, em Portugal, é cada vez mais urgente, tanto mais que a esperança média de vida continua a aumentar e o valor das pensões a diminuir".
Segundo a Deco, "face à queda das pensões do Estado, é imperativo que os portugueses mudem o seu planeamento financeiro e que se criem novas políticas de proteção social".
A associação lembrou que, ainda que este ano as pensões tenham registado um aumento máximo de 3,85%, de acordo com os escalões de atualização legal, as projeções mais recentes da Comissão Europeia indicam que "a taxa de substituição das pensões em Portugal cairá drasticamente".
Assim, segundo o Ageing Report 2024, citado pela Deco, "a pensão média nacional deverá passar de 69,4% do último vencimento para 38,5% em 2050, caso não sejam implementadas reestruturações no sistema de Segurança Social".
Por isso, reiterou, "impõe-se planear antecipadamente a reforma para garantir um nível de vida digno, semelhante ao da idade ativa", destacando que "poupar para a reforma deve ser encarado como um objetivo ao longo de toda a vida ativa, iniciando-se logo que se entra no mercado de trabalho".
A Deco defende ainda que a poupança para a reforma deve contar "com incentivos fiscais progressivos, produtos transparentes e educação financeira acessível a todas as idades".
Para a associação de defesa do consumidor, "reformar a forma como se pensa a reforma" passa por "transformar o medo do futuro numa cultura de preparação e segurança".
A Deco lembrou que o envelhecimento e baixa natalidade ameaçam a sustentabilidade do sistema de pensões, apontando que "muitos portugueses não têm poupança complementar e desconhecem como funciona a sua pensão futura".
De acordo com os dados da associação, "os agregados familiares reformados têm ainda, em média, quatro créditos ativos", no valor aproximado de 20 mil euros, e cartões de crédito, de cerca de seis mil euros.
A associação revelou ainda que as prestações mensais totalizam cerca de 680 euros, face a um rendimento líquido médio de 1150 euros, "o que representa uma taxa de esforço próxima dos 60%, muito acima do limite recomendado de 35%", mostrando a "elevada vulnerabilidade financeira de quem chega à reforma sem poupanças próprias".
A Deco acredita que é preciso implementar programas de literacia financeira e proteção para o futuro e garantir "apoio independente" que oriente escolhas de poupança complementar e produtos financeiros, "sem conflitos de interesse".
A associação defendeu ainda a criação de "incentivos fiscais progressivos" para todas as faixas de rendimento, tornando a poupança mais acessível, a promoção de "produtos de poupança simples, claros e transparentes, sem taxas escondidas" e o desenvolvimento de "políticas de inclusão financeira".
A Deco apelou ainda para a redução de carga fiscal sobre os depósitos a prazo e pediu a criação de "campanhas de sensibilização que expliquem a importância da poupança desde cedo, usando exemplos reais e acessíveis".