Opinião

Perante o caos, devolver a ordem

Artur Machado

Não sei se o nosso primeiro-ministro costuma receber um resumo com a informação divulgada regularmente pelo Eurobarómetro. É um instrumento que mede os humores de todos os europeus e mostra como, nesta Europa unida, há preocupações muito diferentes, consoante o pedaço de terra em que nos cabe viver. Dizia que não sei se Luís Montenegro, ou o seu gabinete, se dá a esse trabalho, mas posso fazer um breve resumo, a propósito das polémicas com os cortes na Saúde. Ou otimização, se quisermos dar como bom o jargão dos especialistas em comunicação governamental.

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No Eurobarómetro da primavera, que, na verdade, só foi divulgado no verão, há algo em que os europeus estão em sintonia: um dos problemas mais importantes para os cidadãos de diferentes latitudes é o custo de vida. Mas há um aspeto em que a divergência é notória. Para 39% dos portugueses, o problema mais importante é mesmo a Saúde. Uma matéria que só preocupa uns escassos 11% de europeus.

Mais para a frente, pergunta-se quais devem ser as prioridades do Parlamento Europeu. E há duas notas de dissonância que, suspeito, têm muito uma que ver com a outra. A prioridade número um deveria ser a luta contra a pobreza e a exclusão social: é assim que respondem 54% dos portugueses, mas apenas 31% do conjunto dos europeus. E a segunda prioridade? Aposto que já adivinharam: é o apoio à saúde pública, segundo 50% dos portugueses e apenas 24% dos europeus.

Conclusão, há por aqui muitos pobres e muita gente com problemas de saúde, ou que adivinha que os terá. E que não tem dinheiro para pagar seguros de saúde. Está inteiramente nas mãos do chamado Estado social e de um Serviço Nacional de Saúde que, a cada ano que passa, se torna mais disfuncional.

Daqui parto para um conselho, se me é permitido, ao nosso primeiro-ministro. E não, não se trata se me juntar ao coro de políticos e comentadores que pedem regularmente a demissão da ministra da Saúde. Parece-me um exercício relativamente inútil. Trata-se de sugerir que, em vez de cortes, ou otimizações, que neste contexto são sinónimos, se concentre numa solução concertada e de longo prazo. Como disse, ontem mesmo, o Presidente da República, os sucessivos governos andam de plano de emergência em plano de emergência, com decisões casuísticas de curto prazo que nada resolvem. Placebos, para usar linguagem médica.

Para citar uma ideia recente de Luís Montenegro, perante o caos é preciso devolver a ordem; perante a inércia, é preciso agir. É verdade que o primeiro-ministro o disse para se vangloriar da aprovação de uma nova lei da nacionalidade. Mas talvez não fosse má ideia usar essa determinação na Saúde. Isto, se estiver interessado em resolver um problema que, esse, sim, preocupa os portugueses.

Rafael Barbosa