Economia

Combustíveis sobem na próxima semana. Portugal caminha para preços mais caros da Europa

Amin Chaar/Global Imagens (arquivo)

Está previsto um novo aumento no preço dos combustíveis em Portugal. A Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) faz as contas e sublinha que os preços já estão acima da média europeia

Os preços dos combustíveis vão ficar mais caros na próxima semana, caso se confirmem as previsões apontadas pelos operadores. As estimativas indicam que o gasóleo deverá aumentar cerca de 4,5 cêntimos por litro, enquanto a gasolina deverá subir dois cêntimos.

Segundo Pedro Silva, especialista em combustíveis da Deco, estes valores não surpreendem e refletem uma evolução natural do mercado, influenciada sobretudo pela recente valorização do petróleo.

"Trata-se do refletir de uma subida do preço do petróleo relativamente à semana anterior. O mercado português define o preço da semana seguinte com base na semana corrente. Portanto, se compararmos esta semana que hoje termina com a semana anterior, temos aqui uma subida do preço do petróleo na ordem dos 5 dólares por barril. Há uma cadeia de transmissão que origina de facto esta subida", explica.

Além da subida do crude, Pedro Silva lembra que gasolina e gasóleo são produtos com mercados próprios, influenciados por padrões diferentes de procura. Nesta altura do ano, o gasóleo é particularmente afetado: "Com a chegada do inverno a Portugal e com temperaturas mais baixas no resto da Europa, o gasóleo continua a ser procurado para aquecimento. É algo típico desta fase do ano."

Sem o desconto no ISP, a subida seria ainda maior

O especialista da Deco alerta também que, caso o Governo já tivesse revertido o desconto aplicado no Imposto sobre Produtos Petrolíferos e Energéticos (ISP) - que Pedro Silva prefere chamar de "ajuste" -, os preços previstos para a próxima semana seriam significativamente superiores.

"Quando se prevêem preços de 1,57 ou 1,58 euros para o gasóleo e 1,70 para a gasolina, teríamos a gasolina, só por esse efeito, a subir para 1,85 euros", estima.

A eliminação deste apoio teria impactos diretos nas famílias e na economia, lembra o especialista, sobretudo num país que ainda não dispõe de alternativas de mobilidade suficientemente sólidas.

"De facto, põe aqui a mobilidade dos consumidores portugueses em risco, porque ainda não estamos no país de futuro com rede de transportes para todos os residentes em Portugal. Também não temos aqui o futuro elétrico à nossa mão. É uma minoria de minoria do parque automóvel e isto vai ter um impacto diretamente na carteira dos portugueses. E indiretamente também."

A tendência de subida e as metas europeias de descarbonização deverão continuar a pressionar os preços, alerta a DECO. Para Pedro Silva, Portugal já paga combustíveis acima da média e pode aproximar-se rapidamente do topo da tabela.

"Seguindo este caminho, Portugal pode passar a estar entre os três países com os combustíveis mais caros da Europa. E isso é particularmente preocupante numa sociedade que não tem os rendimentos dos parceiros que ocupam esses lugares cimeiros", conclui.

Maria Ramos Santos