Gouveia e Melo considera que a confiança no Governo "está abalada". Para o candidato presidencial, a "população não está contente" e que, por isso, é preciso "saber qual é o modelo" que se quer para a saúde portuguesa
O candidato presidencial Henrique Gouveia e Melo afirmou esta sexta-feira, no Porto, que a continuidade da ministra da Saúde Ana Paula Martins é responsabilidade do primeiro-ministro Luís Montenegro e que é preciso explicar isso aos portugueses.
Em declarações à margem da conferência integrada no ciclo Portugal com Rumo, sob o tema Acelerar Portugal - Inteligência Artificial, Inteligência Coletiva e Juventude, na Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), o almirante aposentado deixou críticas à forma como a questão da Saúde está a ser tratada.
"A questão da saúde é muito mais abrangente que o cargo da ministra. É uma questão que se arrasta, que tem que ser resolvida, os portugueses andam preocupados, os profissionais de saúde não estão contentes e o sistema cada vez exige mais recursos", afirmou o candidato, para quem há um "problema nítido de organização".
E prosseguiu: "se a ministra da Saúde fica ou deixa de ficar [na sequência da morte de uma grávida na sexta-feira no Hospital Amadora-Sintra], isso é uma responsabilidade do primeiro-ministro e o primeiro-ministro é corresponsável, enquanto chefe de governo, pela forma como a saúde tem respondido ou não aos anseios dos portugueses".
Questionado sobre a crise no setor, Gouveia e Melo insistiu que a "população não está contente" e que, por isso, é preciso "saber qual é o modelo" que se quer para a saúde portuguesa.
"Queremos um modelo mais privatizado, um modelo do Estado, um modelo misto... Eu acho que o Serviço Nacional de Saúde é essencial. É essencial para garantir que todos os portugueses têm acesso à saúde, independentemente da sua capacidade financeira. E é um dos elementos mais importantes para a coesão nacional. De facto, a saúde não tem respondido neste momento e ultimamente aos problemas que lhe são colocados", afirmou.
A consequência disso tem sido "algum alarme social, alguma insatisfação e não são só os utentes, são os próprios profissionais de saúde, a organização" quando se continua a "injetar recursos no sistema".
"Há qualquer coisa que está a falhar", assinalou, frisando que o "poder executivo tem como obrigação governar o país e apresentar resultados. Não é fazer demagogia, é apresentar resultados".
Questionado se os cerca de 200 milhões a menos de investimento na saúde em 2026 são um corte ou uma otimização de recursos, como defendeu o primeiro-ministro, Gouveia e Melo respondeu; quando uma coisa não funciona ou não está a funcionar como se esperaria, não sei como é que se vai otimizar muito".
"O problema neste momento é que tem que se pôr aquela máquina a funcionar. É uma máquina muito horizontalizada. Este Governo veio com promessas que resolviam o problema muito rapidamente e, pelos vistos, não está a conseguir fazer e responder essas promessas", lembrou o candidato presidencial.
Neste contexto, o antigo militar defendeu que "por uma questão de transparência, há a obrigação de explicar aos portugueses o que é que se passa, de forma muito clara".
"Nós o que vemos é uma sucessão de demissões ou de exonerações no Sistema Nacional de Saúde. Isso não parece muito positivo, não parece um indicador positivo. E, por isso, eu julgo que o Governo, nas suas análises, tirará as conclusões que tem que tirar, porque senão sofrerá as consequências da própria avaliação pública", acrescentou.
Gouveia e Melo considera, por isso, que a confiança no Governo "está abalada".