Para Pedro Duarte, o Porto precisa de reforçar a sua "base produtiva e de apostar em bens e serviços transacionáveis"
O novo presidente da Câmara do Porto, Pedro Duarte, tomou hoje posse e afirmou como desígnio "repensar o modelo de desenvolvimento económico" da cidade, alertando para a excessiva dependência do turismo e imobiliário.
"Teremos de repensar o nosso modelo de desenvolvimento económico. Uma cidade que depende em excesso do turismo e do imobiliário corre o risco de se tornar refém do seu próprio sucesso", disse hoje no seu discurso de tomada de posse, numa cerimónia no Mosteiro de São Bento da Vitória que contou com a presença, entre outros, do presidente cessante Rui Moreira, do homólogo de Lisboa, Carlos Moedas, do homólogo de Gaia, Luís Filipe Menezes, e do bispo do Porto, Manuel Linda.
Para Pedro Duarte, o Porto precisa de reforçar a sua "base produtiva e de apostar em bens e serviços transacionáveis", ao "diversificar, consolidar a economia do conhecimento, valorizar as indústrias criativas, atrair empresas inovadoras e proteger o comércio de proximidade, que sustenta a coesão da cidade".
Na parte inicial do seu discurso, tinha já identificado que "o Porto cresceu, mas com o crescimento vieram também novas dores: a pressão sobre a habitação, a insegurança, as limitações à mobilidade, as desigualdades que persistem".
Elencando cinco pontos essenciais, Pedro Duarte garantiu que fará uma governação focada em "resolver os problemas reais" das pessoas, optará por agir "com base no diálogo, na escuta e no consenso", manterá "o legado portuense das contas certas e da gestão responsável", governará com "proximidade" estando "nas ruas e nos bairros", e ainda exercendo o poder "com coragem", sem depender dos "interesses particulares" e "com arrojo perante os velhos do Restelo e com desprendimento perante o 'status quo'".
"O Porto não pode - nem quer - fechar-se sobre si próprio. Tem de ser pensado em rede e perspetivado em articulação com a Área Metropolitana, com a Região Norte, com o País e com a Europa", disse ainda, vendo a cidade como "uma referência de cooperação e confiança entre os municípios da região", com "atitude construtiva", "visão estratégica" e "capacidade de agregar".
Recuperando uma ideia do seu discurso da vitória eleitoral de 12 de outubro, Pedro Duarte disse querer afirmar a cidade "sem complexos", assumindo "a sua responsabilidade de liderança: liderar para unir a região, para projetar o Grande Porto, para reforçar o papel do Norte e, desse modo, para fortalecer Portugal".
Com os olhos também postos fora do concelho que irá governar nos próximos quatro anos, o ex-ministro considerou que a autarquia não é alheia aos desafios globais, como as alterações climáticas, "as guerras, as tensões geopolíticas e os novos autoritarismos", relembrando a todos os presentes na tomada de posse que "a paz e a democracia são conquistas frágeis".
"As desigualdades sociais recordam-nos que o progresso só é verdadeiro quando nos leva a todos com ele", declarou ainda, dizendo que a sua visão de cidade "assenta numa ideia simples: governar é criar as condições para que as pessoas sejam felizes".
Sobre a palavra "felicidade", considerou que "durante demasiado tempo, a política afastou-se desta palavra - como se fosse abstrata, supérflua ou até imprópria do dicionário político".
Para Pedro Duarte, "a felicidade não é um luxo, nem uma quimera: é a razão de ser da vida em comunidade" e "ser feliz é ter saúde, uma casa digna e um trabalho que permita viver com tranquilidade", com "tempo para a família, para os amigos, para o descanso, para o desporto e para a cultura" onde se possa caminhar "com segurança" e "respirar ar limpo".
"Uma cidade de oportunidades. De oportunidades para todos, independentemente de crescerem num bairro social ou num condomínio de luxo", frisou.
Ao antecessor Rui Moreira, Pedro Duarte deixou palavras de agradecimento por ter dado uma "nova vida à cidade", reconheceu a sua gestão feita com "independência e coragem" e disse sentir-se "inspirado" pela herança deixada.
"Abriu o Porto ao mundo e deu mundo ao Porto. Nestes 12 anos, a cidade viveu uma transformação profunda e tornou-se uma referência internacional", acrescentou.
A fechar o discurso, disse que "a coesão social não se decreta, constrói-se", considerando que "é tempo de unir", "sentir empatia", ressuscitar "o sentido de comunidade, de pertença e de entreajuda".
"Se há cidade capaz de lutar contra o clima de desconfiança, de isolamento e de ódio que marca o nosso tempo, essa cidade é o Porto", vincou, terminando com um "bibó Porto".