O representante dos administradores hospitalares e o bastonário da Ordem dos Médicos concordam, no Fórum TSF, que é necessária uma transição "progressiva" dos tarefeiros para contratos com o SNS
Numa altura em que a Saúde enfrenta a possibilidade dos médicos tarefeiros pararem o trabalho que fazem nas urgências hospitalares, em reação às novas regras que o Governo de Luís Montenegro quer impor, o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, defende no Fórum TSF que a ministra Ana Paula Martins deve negociar com estes prestadores de serviços. A Saúde é "uma questão demasiado importante para a ver do ponto de vista utilitarista e calculista, e na lógica do ganho político", assinala.
A greve dos tarefeiros "teria certamente muitas consequências para a saúde das populações", sendo que os efeitos iriam desde o "aumento enorme dos tempos de espera" até o "encerramento de algumas urgências", aponta ainda Xavier Barreto.
O responsável da APAH sublinha a necessidade de cortar "de forma progressiva" no número de tarefeiros e passar a integrá-los, através de contrato, no Serviço Nacional de Saúde (SNS), por várias razões, desde logo a "assimetria" salarial entre tarefeiros e outros médicos "que fazem o mesmo trabalho". Mas também porque é necessário valorizar quem faz parte das rotinas dos hospitais: os profissionais pagos à hora estão, muitas vezes, "desarticulados" do serviço, "vão à urgência, fazem algumas horas e regressam a casa" sem "fazer o acompanhamento daqueles doentes no internamento" nem "discutir casos clínicos com os colegas".
Perante a ameaça de paralisação que está criada, também o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, destaca a necessidade dos tarefeiros serem integrados no SNS. Caso contrário, e tendo em conta o eventual corte nos rendimentos, "vão para o privado ou emigram".
Recomenda, por isso, à ministra da Saúde que dê ouvidos a estes profissionais e a "não perder o foco", que deve ser a "capacidade de resposta que o SNS tem de ter aos seus doentes".
"Não foram os médicos que criaram esta figura da prestação de serviço. A prestação de serviço sempre existiu e ela foi potenciada na altura da troika. Recordo-me perfeitamente que nessa altura havia aqui um objetivo (...) que era diminuir os funcionários públicos. E houve uma pressão, um estímulo muito grande colocado sobre os médicos para aderirem à prestação de serviço."
Também Joana Bordalo e Sá, presidente da Federação Nacional dos Médicos, refere que os tarefeiros "são necessários de norte a sul do país" para assegurar urgências, mas também para cirurgias programadas, por exemplo. Sobre a notícia do Expresso, que dá conta da preparação no Ministério da Saúde de um aumento do valor das horas extra para os médicos que trabalham no SNS, Bordalo e Sá diz que apostar no trabalho suplementar "não é solução". A entrar em vigor, vai amplificar a "ausência de equilíbrio entre a vida profissional, a social e a pessoal", realçando: "A sobrecarga é uma das razões para a saída dos médicos do SNS, porque ninguém consegue compatibilizar uma vida normal com jornadas de 12 ou 24 horas na urgência, duas ou três vezes por semana."