À TSF, a bióloga marinha Raquel Gaspar - que tem promovido, há já 30 anos, ações de sensibilização sobre as pradarias marinhas do Estuário do Sado - nota uma evolução positiva nos comportamentos adotados pelos mariscadores, que permitiram "libertar o estuário de uma grande fonte de contaminação de plástico". Ainda assim, sublinha que este é um "caminho interminável"
É preciso acabar com a pesca de arrastão nas áreas marinhas protegidas. A luta é antiga, mas a fundadora da associação Ocean Alive, Raquel Gaspar, insiste num "grito" de alerta, à consideração da Cimeira do Clima.
A bióloga marinha Raquel Gaspar tem promovido, há já 30 anos, ações de sensibilização sobre as pradarias marinhas do Sado. Em declarações à TSF, confessa que tem o "grande grito de esperança" de que, na Conferência do Oceano, a Europa tenha a "coragem" de assumir um compromisso para pôr fim à pesca de arrastão nas áreas marinhas protegidas.
"Embora isso [a pesca de arrastão] represente cerca de 1% das emissões daquilo que a Europa produz, é uma contribuição muito representativa para um setor só", argumenta.
Além disso, sublinha os "enormes" co-benefícios que a cessação desta atividade pode trazer: desde logo, no que diz respeito à qualidade da água.
"Quando eu comecei a trabalhar, o esgoto da cidade de Setúbal saía direto para o Estuário do Sado. Hoje, passam-se dias e nós temos a água completamente transparente no Estuário de Sado. Isto levou a um benefício enorme: vemos as pradarias a aumentar", adensa.
Além disso, nota uma evolução positiva nos comportamentos adotados no setor, uma vez que atualmente há um maior conhecimento sobre as pradarias. Este progresso, especialmente visível nos mariscadores - "que mudaram os seus hábitos" -, "libertou o estuário de uma grande fonte de contaminação de plástico que estava instaurada".
"Há pessoas que são muito difíceis de mudar, mas nós conseguimos", realça, ressalvando, ainda assim, que este é um "caminho interminável".
Debruçando-se novamente sobre a oportunidade que a COP30 representa para ampliar a discussão sobre a pesca de arrastão, a bióloga marinha nota que a mensagem mais importante - e que ainda teima em estar em falta - é de que, juntos, os Estados são mais fortes.
"De uma cimeira mundial como esta, só posso esperar que haja um sentimento global de que, juntos, vamos conseguir. É aquilo que eu mais sinto falta nestas conferências, em que olhamos para elas com a luz de quem vai para o palco são os grandes decisores, mas nós somos dos maiores atores e, neste momento, só vejo esta hipótese: juntos, termos o sentimento de que vamos conseguir", remata.
A 30.ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que decorre na cidade de Belém, na Amazónia brasileira, termina no sábado.