"Já há alguns anos também foi a mesma prática" quando decorriam negociações, lembrou o presidente do Governo Regional dos Açores
O presidente do Governo dos Açores considerou hoje que o anúncio da Ryanair de encerrar os voos para os Açores em março é "surpreendente", mas "reincidente", desejando que a operadora de baixo custo se mantenha por haver "vantagem mútua".
José Manuel Bolieiro recordou que a posição da Ryanair "é reincidente" porque "já há alguns anos também foi a mesma prática" quando decorriam negociações.
Bolieiro, que falava aos jornalistas, em Ponta Delgada, na sequência da assinatura de um protocolo com a FLAD e a Universidade dos Açores, reconheceu que "a missão que a Ryanair presta aos Açores é importante", sendo seu desejo que continue a operar para a região "porque tem uma vantagem mútua para o arquipélago e para a empresa, que faz um negócio".
A Ryanair anunciou hoje "que irá cancelar todos os voos de/para os Açores a partir de 29 de março de 2026, devido às elevadas taxas aeroportuárias (definidas pelo monopólio aeroportuário francês ANA) e à inação do Governo português, que aumentou as taxas de navegação aérea em +120% após a covid e introduziu uma taxa de viagem de dois euros, numa altura em que outros Estados da União Europeia (UE) estão a abolir taxas de viagem para garantir o crescimento de capacidade, que é escasso".
O líder do executivo açoriano afirmou que, "quanto à tentativa de passar responsabilidades", pela parte do Governo dos Açores existe a "máxima tranquilidade" porque "tudo se faz, desde logo a partir da Visit Açores, que é a instituição que se relaciona diretamente com a Ryanair, que tem mantido contactos".
"Quanto às alegações que o comunicado representa, já tive oportunidade de ouvir as reações quer da ANA Vinci, quer do Governo da República e confirmo a verdade dos factos", afirmou Bolieiro.
Questionado sobre se a saída da Ryanair do mercado dos Açores se concretizar, Bolieiro refere que "há sempre que trabalhar alternativas", mas acrescentou que avançar para essas alternativas "quando ainda se está numa fase negocial e de pressupostos seria pouco recomendável".
Bolieiro refere que a dinâmica económica, numa eventual saída do mercado da Ryanair, gera alternativas, como aconteceu em 2023 quando a companhia promoveu uma redução drástica de voos e abandonou a base de Ponta Delgada, sendo que este mercado "é muito adaptável e o negócio é muito volátil".
"Eu tenho preferência que a Ryanair continue aqui a desempenhar o seu papel, como também desejo que outras companhias aéreas possam fazer dos Açores uma oportunidade de negócio e melhorar a nossa acessibilidade em quantidade e qualidade, em preço e desonerar o custo aos passageiros", afirmou.
O Governo manifestou "surpresa" com os argumentos da Ryanair sobre fim da operação nos Açores, lembrando que a taxa desta rota é a mais baixa da Europa e que a companhia recebeu dezenas de milhões de euros em incentivos.
Em resposta escrita à Lusa, fonte oficial do Ministério das Infraestruturas afirmou que, na sequência do comunicado da Ryanair sobre o alegado impacto das taxas aeroportuárias no encerramento da sua operação nos Açores, a partir de março de 2026, não podem "deixar de expressar surpresa face às afirmações transmitidas pela companhia aérea".
Já a ANA - Aeroportos de Portugal disse que o anúncio da Ryanair é uma "surpresa", revelando que "as recentes conversas" estavam "orientadas no sentido de aumentar e não reduzir" a oferta.
O grupo, detido pela francesa Vinci, disse que "as taxas aeroportuárias em vigor nos Açores, as mais baixas da rede" ficaram inalteradas em 2025, "não tendo a ANA proposto qualquer aumento para 2026".