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Polícia australiana revela que autores do massacre de Sydney treinaram no país e lançaram explosivos que não detonaram

Foto: Saeed Khan/AFP

As autoridades encontraram um vídeo num telemóvel no qual os autores do massacre estão sentados diante de uma bandeira do grupo extremista Estado Islâmico, recitam uma passagem do alcorão e criticam os "sionistas"

A polícia australiana concluiu que os dois agressores do ataque antissemita na praia de Bondi, em Sydney, treinaram na Austrália antes do massacre de 14 de dezembro, que deixou 15 mortos, de acordo com documentos judiciais divulgados esta segunda-feira. A investigação revelou também que os dois homens lançaram explosivos que não chegaram a detonar durante o ataque.

De acordo com os documentos da investigação, a polícia também encontrou um vídeo num telemóvel no qual Sajid e Naveed Akram, pai e filho autores do massacre, estão sentados diante de uma bandeira do grupo extremista Estado Islâmico, recitam uma passagem do alcorão e criticam os "sionistas".

A declaração policial menciona vídeos em que os dois homens "parecem justificar o ataque" e realizam "um treino com armas de fogo numa zona rural, presumivelmente Nova Gales do Sul".

"Ao longo do vídeo, vê-se o acusado e o seu pai a disparar espingardas e a mover-se de forma tática", acrescenta o documento mencionado pela ABC, que também faz referência a imagens em que ambos estão sentados com armas de fogo de longo alcance em frente a uma bandeira do EI.

Além disso, os dois homens lançaram explosivos que não chegaram a detonar durante o ataque. De acordo com um comunicado da polícia divulgado por um tribunal local, a que a estação australiana de televisão ABC teve acesso, a investigação apurou que os supostos agressores lançaram quatro artefactos explosivos improvisados contra uma multidão que celebrava uma festa judaica na praia nos arredores de Sydney, informou a ABC, que publicou fotografias dos dispositivos.

Na semana passada, um tribunal de Sydney emitiu uma ordem de sigilo judicial relativa à declaração policial sobre os supostos factos de Bondi, que foi levantada esta segunda-feira, permitindo a publicação.

De acordo com o texto ao qual a ABC teve acesso, os agentes disseram que os dois homens estacionaram um veículo em Campbell Parade (praia de Bondi) por volta das 18h50, hora local (07h50 TMG), no dia do ataque, e colocaram bandeiras do Estado Islâmico (EI) nos para-brisas dianteiro e traseiro, cuja ideologia o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, já associou ao ataque.

O comunicado policial preliminar presume que os dois suspeitos retiraram do veículo três armas de fogo, juntamente com três explosivos caseiros e uma bomba "em forma de bola de ténis", e dirigiram-se em direção à multidão. Os artefactos lançados não detonaram, mas foram considerados "viáveis" pela polícia, que afirmou ter encontrado um quinto explosivo na bagageira do carro.

O agressor que ficou ferido, Naveed Akram, foi, entretanto, transferido do hospital onde estava a ser tratado para uma prisão, informou a polícia. O pai de Naveed foi abatido pela polícia no dia do massacre.

Ainda de acordo com os documentos da investigação esta segunda-feira revelados, Sajid e Naveed Akram também fizeram "reconhecimentos" na praia de Bondi, nos arredores de Sydney, alguns dias antes do massacre.

O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, apelou esta segunda-feira ao apoio dos partidos representados no Parlamento australiano para instituir "uma infração agravada para discursos de ódio" e outras leis relacionadas.

"Não vamos deixar que os terroristas inspirados pelo grupo Estado Islâmico vençam. Não vamos deixar que dividam a nossa sociedade e vamos superar esta provação juntos", disse Albanese em declarações aos jornalistas.

O chefe do Governo federal denunciou o ataque em Bondi como um ato "terrorista antissemita", perpetrado por homens inspirados pela "ideologia do ódio", e motivados pela "ideologia do grupo Estado Islâmico".

Um veículo encontrado perto da praia de Bondi, registado em nome de Akram, continha duas bandeiras do EI e engenhos explosivos improvisados, segundo a polícia, em informações difundidas logo após o ataque.

O Governo do estado de Nova Gales do Sul, cuja capital é Sydney, apresentou esta segunda-feira o que qualificou como "as reformas mais rigorosas do país em matéria de armas de fogo", que reduzem o número de armas autorizadas para quatro por indivíduo. Pessoas isentas de autorização de posse de arma, como os agricultores do imenso país rural, poderão possuir até dez armas.

O ataque ocorreu há oito dias, quando dois homens armados com espingardas abriram fogo contra a multidão reunida num parque próximo à praia de Bondi, uma das mais movimentadas e turísticas da Austrália, onde cerca de mil pessoas celebravam a festa judaica de Hanukkah.

No local, morreram 14 pessoas - entre elas um dos supostos agressores, que foi abatido - e outras duas faleceram posteriormente no hospital, incluindo uma menina de 10 anos.

A polícia apresentou 59 acusações contra Naveed Akram, incluindo 15 por homicídio e uma por terrorismo.

TSF/Lusa