Quarenta e quatro anos depois de ter sido encerrada, a antiga cadeia de Aljube, em Lisboa, torna-se de novo cárcere para, em nome da liberdade, dar voz às vítimas da ditadura que por lá passaram.
"Aljube - a voz das vítimas" é o nome da exposição, organizada pela Fundação Mário Soares, o Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e o movimento cívico "Não Apaguem a Memória!".
A exposição conta a história da repressão em Portugal. O projecto nasceu da ideia de fazer justiça às vítimas da ditadura, dando a conhecer as condições a que milhares de homens estiveram sujeitos enquanto presos políticos.
Um dos pontos altos da mostra é um conjunto de seis "curros", ou "gavetas", que reproduzem os 14 cárceres que existiam na altura da ditadura.
São buracos, com um metro por dois, com uma única cama de madeira que, quando aberta, ocupava o espaço todo.
Além destes "curros", para onde iam os presos políticos, a exposição dedica uma sala a organizações que eram perseguidas pela polícia política e por todo o regime, e conta o percurso prisional de alguns resistentes, como Hermínio da Palma Inácio, Mário Soares ou Álvaro Cunhal.
Numa outra parte do edifício de Aljube é apresentada, com a ajuda de manequins, a forma como os presos falavam com as visitas, sempre com a presença de um PIDE entre eles.
Em declarações à TSF, Alfredo Caldeira, responsável pela exposição e antigo preso político desta cadeia, revelou que, em Aljube era recorrente o «isolamento continuo para garantir que o preso não comunicava com ninguém».
O também administrador do Arquivo da Fundação Mário Soares diz ainda que os presos «passavam meses sem ter visitas» e quando as tinham «eram várias vezes interrompidas por agentes da PIDE».
A prisão do Aljube fechou em 1965, depois de se tornar um escândalo internacional em termos de violação dos direitos humanos, mas também por ter sido palco de fugas históricas, como as protagonizadas por Hermínio da Palma Inácio, Carlos Brito, entre outros.
A exposição abre as portas esta quinta-feira, mês da revolução que pôs fim à ditadura em Portugal.