O membro do Banco Central da Islândia Gylfi Zoega considera que Portugal deve investigar quem está na origem do elevado endividamento do Estado e bancos e porque o fez.
«Temos de ir aos incentivos. Quem ganhou com isto? No meu país eu sei quem puxou os cordelinhos, porque o fizeram e o que fizeram, e Portugal precisa de fazer o mesmo. De analisar porque alguém teve esse incentivo, no Governo e nos bancos, para pedirem tanto emprestado e como se pode solucionar esse problema no futuro», disse o responsável, que esteve em Portugal a participar nas conferências do Estoril.
O economista, que também participou no documentário premiado com um Óscar "Inside Job - A verdade sobre a crise", disse em entrevista à Lusa que Portugal beneficiou muito de estar no euro nesta altura, porque para além do apoio dos seus parceiros da união monetária, terá de resolver os seus problemas estruturais ao invés de recorrer, como muitas vezes no passado, à desvalorização da moeda.
«Talvez para Portugal estar no euro nesta altura seja uma bênção, porque apesar de não conseguir sair do problema de forma tão fácil como antes, através da depreciação [da moeda], vocês têm de lidar com os problemas estruturais que têm», disse.
A Islândia, na sequência da grave crise económica que sofre desde 2008, derivada do colapso do seu sistema financeiro (que chegou a ser 10 vezes maior que a economia islandesa), também teve de recorrer ao Fundo Monetário Internacional para resolver os seus problemas de financiamento, mas neste caso a experiência não é nada mal vista.
«Penso que o FMI é útil neste sentido, porque é uma instituição que pode ajudar a coordenar as acções. Existem coisas impopulares que têm de ser feitas, e pode ser utilizada como um bode expiatório para essas medidas impopulares, que teriam de ser aplicadas de qualquer forma. Ajuda os políticos locais a justificar aquilo que podiam não conseguir fazer por eles próprios», disse.
O responsável acrescentou que a experiência do seu país tem sido «muito boa» e que a instituição tem feito um grande esforço de coordenação para garantir que as medidas têm os efeitos desejados.
No entanto, recorrer a ajuda externa tem as suas consequências e a principal tem sido a falta de confiança dos mercados, explicou ainda Gylfi Zoega, acrescentando que ainda não existe previsão para quando ou se a Islândia vai conseguir voltar a financiar-se nos mercados.
Defendeu também que Portugal tem de baixar os salários «o mais rapidamente possível» para que a economia possa ganhar competitividade e voltar a crescer.
«Tem de ser uma espécie de imperativo nacional. Porque vai acontecer mais cedo ou mais tarde. É só uma questão de demorar cinco ou dez anos, ou fazê-lo mais cedo. [...] O perigo é não fazerem nada. Continuarem a não serem competitivos, endividados e sem crescimento por um longo período de tempo», afirmou.
O responsável do Banco Central da Islândia aponta ainda a redução da segurança salarial dos trabalhadores mais antigos como uma necessidade para estimular o emprego dos jovens e evitar uma vaga de emigração dos mais jovens.
«É por isso que precisam de um esforço colectivo para fazer isto. Porque a alternativa é os jovens mudarem de país e a economia não crescer», concluiu.