No rescaldo das eleições legislativas regionais, que ditaram nova maioria absoluta para o PSD, a TSF falou com o sociólogo Ricardo Fabrício que considera que a situação política do arquipélago não se alterou.
«O fenómeno perdura, diria que não existem alterações substanciais no fenómeno político na Madeira após estas eleições regionais», afirmou o sociólogo da Universidade da Madeira.
Ricardo Fabrício não vê a perda de peso eleitoral do PSD como um sinal de fim de regime. O sociólogo só consegue antever esse cenário se a autonomia da região for tocada.
«Há uma perda significativa de votos, é um facto, mas penso que é uma contabilidade que se saldou ontem [domingo]. O futuro está muito relacionado com o que vai acontecer nos próximos tempos e, sobretudo, com a evolução que a autonomia for capaz de garantir, ou seja, se existirão condições para que ela continuar a funcionar como tem funcionado», referiu.
A explicação é simples: «Entre o PSD e a autonomia, há uma confusão que se repercute a outros níveis, nomeadamente numa confusão entre partido e governo. Ou seja, é muito difícil a oposição ter um projecto de poder enquanto a autonomia for forte, porque o PSD haverá de continuar muito envolvido, muito confundido, muito emaranhado com essa realidade».
O plano de austeridade que aí vem pode levar a uma perda da autonomia mais ou menos explícita, e nesse quadro o sociólogo Ricardo Fabrício vê o PSD a perder o discurso dos últimos 35 anos.
«Se efectivamente aquele que é um dos eixos elementares da acção política do PSD acabar por se transfigurar, direi que poderão estar reunidas as condições para que eventualmente os eleitores repensem o seu sentido de voto», sublinhou.
«Creio que o enfraquecimento da autonomia será também um enfraquecimento do PSD/Madeira». Até lá, «a Madeira vota de forma racional em Alberto João Jardim» porque, explicou o sociólogo, «a esmagadora maioria das pessoas tem muito a ganhar com a manutenção de determinado status quo e nesse sentido direi que as decisões eleitorais não são estúpidas, não são irracionais, estão ligadas a interesses concretos».
Razões que já entregaram ao PSD dez maiorias absolutas no Parlamento regional, num total de 45 vitórias eleitorais em 35 anos.