O Instituto de Infra-Estruturas Rodoviárias (INIR) avisou que a revisão das concessões era um mau negócio para o Estado, que ficava a pagar mais e assumia todos os riscos dos seis contratos.
Num relatório de Novembro de 2010, fica claro que quando se mexeu nos contratos-base (nesse mesmo ano), os parceiros privados, como a Ascendi, no caso das ex-SCUT, garantiram uma espécie de renda fixa e com bónus: como a rentabilidade deixou de estar dependente do número de carros, ainda poupavam na manutenção das estradas.
Em contrapartida, o INIR alertava para os benefícios incertos a que a Estradas de Portugal ficava sujeita e até para uma possível desvantagem financeira.
Mas quando esta análise chegou às mãos do Governo, o então secretário de Estado Adjunto das Obras Públicas acusou a entidade reguladora de falta de rigor e de incorrecções técnicas, algo que registava com «enorme preocupação».
Num despacho a que a TSF teve acesso (com data de 13 de Dezembro), Paulo Campos determinou que se apurassem responsabilidades e fez uma recomendação ao Instituto: evitar que tal situação de descrédito se repetisse no futuro.
A entidade reguladora do sector rodoviário e representante do Estado nos contratos de concessões respondeu com um parecer - carimbado pelo Instituto Superior de Economia e Gestão e pela Universidade Católica -, que definia como «globalmente adequadas» as notas técnicas do INIR e como «coerentes» as conclusões que apontavam para um impacto financeiro negativo para o Estado.
Seguiu-se nova troca de cartas com o Ministério das Obras Públicas. Estávamos já em Fevereiro de 2011 quando entrou em cena uma auditoria do Tribunal de Contas sobre o novo modelo de gestão e financiamento do sector rodoviário, onde se pode ler que da renegociação com as concessionárias resultou o aumento dos encargos para o Estado e do endividamento da Estradas de Portugal.
O relatório desta auditoria, a que a TSF teve acesso, não foi até hoje aprovado pelo colectivo de juízes e, por isso, ainda não foi tornado público.
Este troca de documentos, consultados agora pela TSF, durou até à queda do executivo socialista. Sete meses depois, a maioria PSD/CDS chama os antigos responsáveis das Obras Públicas ao Parlamento, com o objectivo de saber porque é que os avisos foram ignorados e pedindo que os prejuízos sejam explicados tintim por tintim.