O desespero provocado pela crise pode estar na origem do aumento do consumo de drogas, nomeadamente injectáveis, e de álcool. O alerta é do presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT).
João Goulão receia que o consumo de substâncias ilícitas mais duras possa voltar a subir em Portugal, considerando que, para já, existem sinais que apontam para o agravamento do consumo.
Depois de uma década em que o consumo de drogas diminuiu em Portugal e reduziu-se a relação entre toxicodependência e maginalidade, este cenário parece estar a mudar.
«Voltamos a ter consumos mais problemáticos com maiores dificuldades, com pessoas consumindo mais compulsivamente e por via injectável. Notamos que há mais gente a injectar novamente. É um sentimento que vem do terreno», explicou.
Apesar de ainda não existirem números, João Goulão entende que existe um regresso das drogas duras a Portugal, mas também de «formas mais duras de consumir dessas drogas».
João Goulão nota ainda que «no último ano, ano e pouco, sente-se que estamos a enfrentar situações de maiores problemas ligados com o desespero, com dificuldades sociais e económicas que as pessoas vão vivendo».
O responsável máximo do IDT disse ainda que o fim do instituto que dirige o preocupa, dado que o «modelo integrado que tão bom resultado tem dado e que é reconhecido interna e internacionalmente pode estar comprometido».
Na véspera de apresentar no parlamento britânico uma exposição do que tem sido feito em Portugal no combate à toxicodependência, o presidente do IDT revelou que o exemplo português é alvo de interesse frequente.
«Todas as semanas temos em Lisboa a visita de delegações dos mais variados países. Posso dizer que já estive na Austrália, Washington e, recentemente, no Brasil», adiantou.