Economia

Santos Ferreira: «Não é vergonha nenhuma» recorrer à recapitalização

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A eventual necessidade de os maiores bancos portugueses recorrerem à linha de recapitalização bancária «não é vergonha nenhuma», disse o presidente do Millennium BCP.

«Não era vergonha nenhuma recorrer à linha dos 12 mil milhões de euros», disse à Lusa Carlos Santos Ferreira, salientando que a existência desta linha de recapitalização para a banca em Portugal, criada por altura da celebração do pacote de apoio financeiro internacional ao país, ao contrário do que acontece nos outros países europeus, «dá tranquilidade» às principais entidades bancárias portuguesas.

«Aquilo que mais me preocupava era o sucessivo adiamento das decisões [ao nível dos esforços a tomar pela União Europeia para combater a crise da dívida soberana de vários países europeus, com a Grécia à cabeça], que dava espaço à especulação. Não gosto destas medidas, mas é melhor do que nada. Põem um ponto final à especulação», sublinhou.

O presidente do BCP reforçou que a decisão tomada esta madrugada pelos líderes europeus, que perdoa 50 por cento da dívida grega, «é uma decisão má, mas pior era não haver nenhuma decisão».

Afirmou ainda que o banco que lidera «recorrerá a todos os instrumentos disponíveis, incluindo a linha dos 12 mil milhões de euros», para cumprir as novas metas de capital impostas para o sector bancário europeu.

Segundo o gestor, «a grande pancada» para o sector bancário europeu, no geral, e português, em particular, é a decisão de passar a considerar o valor de mercado dos títulos de dívida pública dos países europeus, que obrigará a uma ampla recapitalização dos bancos do Velho Continente.

«Já estávamos a apontar para os nove por cento [de rácio "Core Tier 1"] no fim do ano [patamar negociado com a "troika"]. E os bancos nacionais que foram avaliados [BCP, BES, BPI e CGD] tinham todos programas de reforço de capital e liquidez. Mas nos testes de "stress" do último Verão, o limite era de cinco por cento e agora passou para nove por cento», frisou.

Por isso, «todos os bancos portugueses envolvidos nos testes de resistência [realizados pela Autoridade Bancária Europeia] apresentam necessidades de capital», explicou.

Porém, Santos Ferreira realçou que «este é, claramente, um problema europeu. Não de Portugal, nem de nenhum banco em Portugal. Tirando os bancos alemães, vá lá saber-se porquê, a necessidade de recapitalização abrange 70 bancos europeus».