Um ano depois do início da revolução egípcia, dois portugueses que vivem no Cairo disseram à TSF que o dia-a-dia no Egipto está mais difícil, mas há mais liberdade de expressão.
A turbulência da Primavera Árabe afastou investidores e travou a economia que está, por esta altura, com o crescimento mais baixo da última década, em concreto 1,2 por cento em 2011, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O desemprego também não pára de crescer - sendo de prever que chegue aos 11,5 por cento em 2012 - e a inflação encontra-se nos 11 por cento ao ano.
Ricardo Oliveira, que vive no Cairo há ano e meio, sublinhou que, para além da liberdade de expressão, «pouco ou nada» mudou para melhor na vida dos egípcios: «Há menos emprego e mais insegurança nos investimentos».
Os egípcios, segundo este arquitecto, estão «numa grande expectativa sobre o que vai fazer o novo Parlamento».
«A procissão ainda vai no adro», ou seja, ainda é cedo para saber o que vai acontecer ao Egipto e quais foram as consequências da revolução que começou há um ano nas ruas do Cairo, frisou.
Joana Saahirah vive há seis anos na capital egípcia para onde foi à procura de concretizar os sonhos de uma bailarina de danças orientais.
Esta portuguesa destacou que o turismo e as artes, área onde trabalha, foram fortemente afectados com a revolução. O investimento caiu, os turistas diminuíram e, com a crise económica, «a vida de quem vive das artes está mais difícil», lamentou.
«A economia está em baixo, em suspenso, os preços subiram e as condições concretas de vida não melhoram e até pioraram», diagnosticou, falando numa espécie de «travessia no deserto para todos».
Um ano depois do início da revolução egípcia, estes dois portugueses a viver no Cairo sublinharam que a principal mudança está na liberdade de expressão.
Depois de décadas de ditadura e medo, Joana Saahirah reforçou que acabou o medo que as pessoas tinham de «dizer aquilo que está mal e que querem que mude».
Ricardo Oliveira acrescentou que o antigo regime ainda não mudou totalmente, mas os jornais, as televisões e as pessoas já não têm medo das consequências.
Apesar das incertezas e da crise económica que se vive no Egipto, Ricardo Oliveira e Joana Saahirah não pensam voltar tão cedo a Portugal. Dizem que as oportunidades de trabalho, à beira do Nilo, continuam a ser melhores do que em Lisboa.