Saúde

Crime no atendimento de doente, diz Inspecção da Saúde

A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) identificou a prática de um crime no atendimento de um doente a quem foi administrado sangue errado na Clínica de Santo António.

As conclusões da inspeção apontam para uma sequência de erros humanos, que começaram na identificação incorreta do doente (para recolha de sangue para análise) e acabaram nos procedimentos médicos errados seguidos pelos profissionais da clínica perante as reações adversas do paciente.

No final do ano passado, um homem de 63 anos, internado na Clínica de Santo António (Amadora) para ser operado a um joelho, morreu após receber transfusões de sangue incompatível, o que se ficou a dever a uma troca com um paciente com o mesmo apelido internado no mesmo quarto.

Fonte do Ministério da Saúde revelou que «a qualidade do sangue não esteve em causa» e que «o acidente ocorreu na sequência da identificação errada do doente» e, consequentemente, do seu tipo de sangue.

Este erro foi cometido por uma funcionária da empresa Hemovida, que trabalhava na Clínica de Santo António.

Mas o erro não se ficou por aqui: «Os sintomas e sinais sucessivos de reações adversas do doente não foram corretamente interpretados» e, por isso, em vez de serem aplicadas as medidas terapêuticas indicadas, houve uma «persistência no erro», ou seja, a administração de repetidas transfusões com sangue incompatível, acrescentou a fonte.

A investigação concluiu que tal aconteceu por falta de formação específica dos profissionais de saúde da clínica, no domínio do tratamento e diagnóstico de reações às transfusões.

Segundo o Ministério da Saúde, verificou-se um grande atraso na "instituição de medidas laboratoriais e terapêuticas adequadas", nomeadamente a transferência do doente para um hospital público (o que só aconteceu cinco dias depois), dotado dos meios de socorro adequados.

Quanto ao hospital público em causa, o Curry Cabral, a investigação concluiu que teve um comportamento «exemplar e sem reparo», com os serviços a atuarem «de forma diligente», tomando «todas as medidas corretas e adequadas para salvar a vida do doente».

Na sequência destas conclusões, a IGAS ordenou à clínica e à Hemovida a tomada de «medidas imediatas» com vista a corrigir as situações assinaladas no relatório, bem como a revisão das suas práticas para identificação de riscos e prevenção de erros.

A IGAS abriu o processo a 13 de dezembro, em colaboração com peritos das áreas do sangue e das transfusões do Instituto Português do Sangue (IPS), e concluiu-o no dia 20 de janeiro, data em que remeteu as conclusões para o Ministério Público.