Portugal

Não é necessariamente mau haver quebra de natalidade, diz António Barreto

António Barreto dr

O sociólogo questiona se será legítimo o Estado discriminar cidadãos tendo em conta o número de filhos, admitindo que não é necessariamente mau haver quebra de natalidade no país.

Na conferência "Nascer em Portugal", promovida pela Presidência da República no âmbito dos roteiros do futuro, António Barreto considerou, esta tarde, que mais importante do que haver muitos nascimentos e haver bons nascimentos.

«Hoje é verdade que se nasce muito menos em Portugal, mas nasce-se muito melhor, não há comparação. Há uma ideia feita de que há um declínio moral, civilizacional na queda da natalidade. Não partilho esta ideia. Nasce-se com mais esperança de vida, em melhores condições, nasce-se com melhor ideia do que é um projecto de vida. Não há nada de dramático no que se está a passar», afirmou.

O sociólogo contraria a corrente dominante e questiona o que raramente é posto em causa.

«Porque é que é melhor ter mais filhos? Nós estamos a partir do principio de que é melhor ter mais filhos, porquê? Porque é melhor ter mais natalidade? Qual é a razão? Dá mais liberdade, dá mais desenvolvimento cultural, social e económico? Dá mais paz? Dá mais harmonia? Dá mais segurança aos projectos de vida?» questionou.

António Barreto perguntou mesmo se o Estado poderá fazer diferença de tratamento entre os cidadãos só pelo número de filhos que decidem ter.

«É legítimo que o Estado tenha uma doutrina? O Estado diz 'é preciso ter mais bebés, façam mais bebés'. Eu não sei se é legítimo o Estado dizer isto. É legítimo o Estado dar benefícios acrescidos a quem tem dois, três, quatro bebés? O Estado pode fazer isso? Então e os outros? Só se o povo quiser é que isto se faz, porque é o povo que faz filhos não são as autoridades», sublinhou o sociólogo.