A história da Ucrânia está repleta de períodos conturbados, quer sociais, políticos e económicos. O povo ucraniano passou por fases de instabilidade social, por miséria e opressão. Esteve sob domínio da Rússia e da Polónia, tendo passado por duas guerras mundiais e pelo comunismo. Só no início da década de 90 é que adquiriu a independência.A TSF relembra a história da Ucrânia, através dos aspetos sociais, políticos e económicos, história que passa este ano pela receção do Euro 2012.
No final do século XIX, a Ucrânia era um país dividido, dominado e oprimido pelos czares russos ou pelos imperadores austro-húngaros. Eram proibidas publicações ou manifestações públicas em língua ucraniana e os protestos políticos eram punidos. Ainda assim, é nesse século que se começa a desenvolver um forte sentimento de independência, um movimento cultural que começou na cidade de Lviv.
No final da I Guerra Mundial, em 1917, ucranianos e nacionalistas entram em guerra, o que dá origem à queda do império russo e austríaco. É nessa altura que a Ucrânia se torna um Estado independente, uma república popular que dura apenas alguns meses.
Domínio soviético
O território ucraniano chega a ser invadido, a leste, pela Rússia e a oeste, pela Polónia, mas a partir de 1922, torna-se uma das 15 repúblicas da antiga União Soviética, facto que iria perdurar até 1991.
Na II Guerra Mundial, a Ucrânia é invadida pela Alemanha, ocupando o território e provocando a morte a cerca de 7,5 milhões de ucranianos, o equivalente a 25% da população.
Já nos meados da década de 50, o então dirigente comunista soviético, Nikita Khrutchov, retirou a Península da Crimeia à Rússia e ofereceu-a de novo ao seu país de origem, o que estabeleceu as fronteiras atuais da Ucrânia. As regiões orientais e centrais do país transformaram-se em grandes centros mineiros e industriais, enquanto que a parte ocidental permaneceu mais rural e pouco desenvolvida. Ainda hoje dois terços da indústria ucraniana estão concentrados naquela região oriental.
Ao longo das décadas seguintes o descontentamento social foi dando mostras evidentes face ao domínio da União Soviética, também porque a parte do país que estava mais desenvolvida era marcada pela influência russa. O povo ucraniano estava à beira da completa assimilação por parte dos russos. Porém, as dificuldades económicas assim como a ineficiente economia socialista soviética fez com que o governo começasse uma política de «reestruturação», a chamada «perestroika» e, em 1990, deram-se as primeiras eleições democráticas para o Conselho Supremo da Ucrânia.
Chernobyl - o pior rosto da história ucraniana
Foi ainda durante a União Soviética que a Ucrânia viveu o pior momento da sua história, com a explosão da central nuclear de Chernobyl. No início da madrugada do dia 26 de abril de 1987, precisamente à 01.23h, foi preciso fazer alguns testes para ver o funcionamento, a baixa energia, do reator 4. Como não foram seguidas as regras de segurança, o reator ficou instável, provocou a fuga de radioatividade e acabou por explodir.
O acidente foi mantido em segredo durante 30 minutos. Só depois é que as pessoas foram alertadas, aviso que chegou demasiado tarde uma vez que todas as pessoas das imediações da central nuclear foram contaminadas com radiação.
Os dados oficiais do governo soviético contabilizaram 15 mil mortos, mas pelas contas de organizações não-governamentais o número ascende a 80 mil vítimas.
Depois do acidente, foi construída uma estrutura de isolamento sobre o reator que tinha explodido, numa tentativa de isolar o material radioativo. A grande maioria destes trabalhadores morreu em consequência da contaminação.
Pripyat, a cidade mais perto da central nuclear e onde os trabalhadores de Chernobyl habitavam, foi completamente abandonada depois do desastre. Antes do acidente, mais de 50 mil pessoas residiam na cidade.
Agora, 26 anos depois da catástrofe, os níveis de radiação diminuíram e por isso o governo ucraniano decidiu abrir aquela área aos visitantes.
Na cidade abandonada de Pripyat, existem ainda construções que guardam os símbolos do regime soviético, assim como um parque de diversões que nunca foi inaugurado e que permanece intacto, sem que nenhuma criança lá tenha brincado. As escolas, vazias, ainda conservam máscaras de proteção usadas pelos alunos após o acidente.
O acidente de Chernobyl teve 400 vezes mais radiação do que a bomba atómica de Hiroshima, no Japão, após a II Guerra Mundial.
A Ucrânia independente
A proclamação da independência veio apenas em 1991, depois da tentativa de golpe contra o então o presidente da URSS, Mikail Gorbachov, uma decisão do Conselho Supremo ucraniano que foi confirmada através de referendo nacional, onde 93% dos ucranianos disseram «sim» à independência.
Leonid Kravchuc foi o primeiro presidente da Ucrânia sucedido, em 1994, por Leonid Kuchma numas eleições livres que mostravam que a Ucrânia estava no caminho para o desenvolvimento democrático.
Formou-se um sistema político-democrático, consagrado na Constituição de 1996. Aí foi instituído o poder executivo a cargo do presidente, primeiro-ministro e respetivos ministros e o poder legislativo pertencente à Rada (Parlamento) com 450 deputados, eleitos por quatro anos.
Após a independência e desintegração da URSS, as indústrias mineira, pesada e militar ucranianas entraram em crise, com o desemprego a atingir níveis muito altos. Essa crise foi ainda mais profunda nas regiões ocidentais, o que levou à emigração de milhões de ucranianos para a Europa e para os Estados Unidos da América.
Hoje em dia, Portugal é um dos países mais procurados pelos ucranianos, em busca de uma melhor qualidade de vida. Só em 2001 havia no nosso país, segundo um estudo do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, mais de 40 mil ucranianos.
Economia
A Ucrânia possui um grande potencial económico, industrial e agrário mas está a passar por um momento de transição por causa da herança soviética, onde havia uma economia pouco eficaz .
Os primeiros anos de independência levaram a uma queda muito acentuada do PIB (Produto Interno Bruto) mas, no final da década de 90, a situação económica voltou a estabilizar.
Ainda que a agricultura seja um fator muito importante, é a indústria que constitui o sector-chave da economia ucraniana, contribuindo em mais de 50% para o montante do rendimento nacional.
Nos últimos anos foi registado um rápido crescimento na indústria ligeira e sobretudo na indústria de produtos alimentícios. Entre os bens mais competitivos no mercado mundial estão os foguetes-Iançadores espaciais ucranianos, bem como os aviões de carga do Consórcio «Antonov».
São de destacar o bem desenvolvido sector siderúrgico (produzindo cerca de metade do ferro fundido e 40% do aço em toda a ex-União Soviética); os sectores agro-alimentares, das indústrias químicas (petroquímica, plásticos, pneus e adubos) e metalomecânica (fabricação de turbinas, automóveis e tratores, construção naval, indústria eletrónica, aeronáutica e espacial) e de produção elétrica.
A indústria extrativa (carvão, ferro, manganésio, titânio, caulino, etc) tem também uma importância relevante para a economia ucraniana.
Poder político
Nesta altura, o cenário político da Ucrânia centra-se na situação da antiga primeira-ministra, Yulia Timochenco. Ela foi condenada, em 2001, a sete anos de prisão por abuso de poder enquanto estava em funções (2007/2010), e presa em agosto do ano passado.
Em abril, Yulia Timochenco iniciou uma greve de fome, recusou ser hospitalizada e acusou depois a polícia ucraniana de agressões.
Este é um caso que pode comprometer a adesão da Ucrânia à União Europeia, como já alertou o ministro dos negócios estrangeiros alemão. Guido Wasterwelle lembrou ainda ao presidente ucraniano e ao seu governo que, com o início do Euro 2012, poderá haver protestos contra as violações dos direitos humanos.
Entretanto, a chanceler alemã, Angela Merkel, já anunciou que não vai assistir ao primeiro jogo da seleção germânica se Yulia Timochenco permanecer na prisão.
O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, juntou-se ao boicote, assim como a comissária europeia do Desporto, que se recusa a assistir a qualquer partida que se realize em território ucraniano.
O governo português estará representado na Ucrânia, entendendo que «política é política e desporto é desporto, independentemente da existência de questões relevantes sobre direitos humanos na Ucrânia», disse fonte oficial à agência Lusa.
O presidente ucraniano, Viktor Ianukovitch, prometeu um inquérito sobre as agressões de que Julia Tymoshenko diz ter sido vítima na cadeia.
O parlamento ucraniano também se tem pautado por sessões agitadas, de autêntico pugilato.
Ainda no final do mês passado os deputados envolveram-se em confrontos físicos por causa de um projeto de lei que atribui à "língua russa o estatuto de segunda língua oficial em determinadas regiões do país.
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