O secretário-geral do PCP considerou que «a base social» que elegeu o Governo «há muito se esboroou» e que o chumbo da moção de censura «não derrotará, nem calará» a sua «expressão inequívoca» que alastra pelo país.
As palavras do líder comunista foram proferidas durante o debate da moção de censura do PCP, na Assembleia da República.
«Para alguns a moção de censura é inconsequente, mas a verdade é que a base social e eleitoral que elegeu esta maioria há muito se esboroou e que hoje o descontentamento e a consciência de que a política deste Governo continuará a agravar os problemas do país são sem dúvida maioritários, é por isso que se alarga e multiplica a luta e a contestação ao Governo e a esta política», afirmou Jerónimo de Sousa.
Perante todos os ministros do Governo PSD/CDS, Jerónimo procurou responder aos que classificaram a moção dos comunistas como inoportuna, inconsequente ou uma «tática de antecipação ou condicionamento» de outros partidos.
«Quem pretende reduzir este debate e moção a uma qualquer tática política não conhece e não percebe a situação dramática que em que se encontram o país e a maioria dos portugueses, o país está farto desta política do passado e farto deste Governo», afirmou o líder do PCP.
Aos que afirmam que a moção de censura «é inoportuna porque o país não precisa de instabilidade», Jerónimo de Sousa interrogou qual é a estabilidade «para os milhões de portugueses que estão desempregados, cujo salário é diminuído e roubado, que se vêm empurrados mais uma vez para a emigração, a insolvência, a ficar sem casa».
«Esta moção de censura, que dá expressão à inequívoca censura popular que encontramos por todo o país, é contra a política de direita e o Governo que a aplica», frisou.
Para o secretário-geral comunista, «pegando por onde se pegar», seja no «plano político, económico, social ou cultural, seja no plano da soberania, não é excessivo dizer que este Governo onde tocou, estragou».
«Um ano dobrado, a recessão económica profunda que o país atravessa tem como consequência a mais elevada taxa de desemprego das últimas décadas, mais de um milhão e duzentos mil desempregados, dos quais menos de 300 mil têm subsídio de desemprego, este imenso flagelo social, com agravada incidência nas novas gerações, é a principal marca da política de direita aplicada pelo Governo», considerou.
Jerónimo de Sousa elencou depois vários setores que «estão na mira deste Governo» e do que disse ser o seu «programa de destruição em massa dos direitos dos portugueses», afirmando que só pelas alterações ao Código do Trabalho o Governo «merecia uma moção de censura».
O secretário-geral do PCP acusou ainda o primeiro-ministro de, «enquanto o país se afunda», andar «pelo mundo a vender o património de todos os portugueses, a anunciar que estão em saldo empresas fundamentais para a soberania e a economia».
«Pode a correlação de forças aqui na Assembleia não deixar passar a moção, mas não a derrotam, nem calam a censura, ela está lá fora e a realidade, tal como o mundo, move-se, ou julgam que não? Isto há de mudar e para melhor», concluiu o líder comunista.