Economistas da OCDE temem queda das receitas do Estado superior ao que foi previsto pelo governo. E dizem que ainda há espaço para flexibilizar leis laborais.
Os economistas da OCDE que fizeram o último relatório sobre a economia portuguesa dizem que as mudanças já feitas nas leis laborais não chegam.
Em entrevista à TSF, dois dos autores do documento dizem ainda que a receita do Estado pode ser ainda menor do que a prevista pelo Governo.
Um dos autores deste relatório defende que o mercado de trabalho nacional ainda está dividido em dois grupos: um sem direitos, altamente flexível, e outro altamente protegido pela lei.
Álvaro Pina, economista da OCDE, diz que «alguns destes trabalhadores podem continuar em lugares onde não são mais úteis, eficientes, produtivos», quando deviam ter mais «mobilidade».
Depois, no outro extremo do mercado de trabalho, «há uma parte de trabalhadores temporários com excesso de mobilidade, instabilidade, sucessão de trabalhos temporários e sem incentivos para investir na formação».
Este economista explica que a preocupação da OCDE centra-se neste segundo grupo de trabalhadores. «É preciso acabar com essa diferença entre trabalhadores a prazo e sem termo. Já houve reformas, mas em comparação internacional ainda há espaço para fazer mais».
Neste relatório sobre Portugal, a OCDE apresenta previsões mais negativas para a economia do que o Governo. Álvaro Pina admite que são mais pessimistas sobretudo para 2013 porque «acreditamos que o consumo privado e o investimento privado vão demorar mais tempo a recuperar».
A culpa é do desemprego que está muito elevado e leva à poupança, mas também da dificuldade de acesso ao crédito e da incerteza sobre o futuro da economia o que prejudica investimento. Dificuldades que levam a OCDE a prever uma queda do PIB em 2013 na ordem dos 0,9%.
Nesta entrevista conjunta, a TSF também falou com o economista-chefe da OCDE para Portugal. David Haugh admite que a descida da receita do Estado é um problema, numa queda que pode ser ainda maior do que as previsões do governo.
O economista da OCDE explica que a culpa é da economia que está em geral fraca e do consumo privado que está ainda mais baixo do que o executivo de Passos Coelho esperava.
David Haugh acrescenta que o Governo aumentou o IVA e é preciso fazer projecções sobre a forma como isso vai afectar o consumo pois «é possível que o executivo tenha sido demasiado optimista».
Os economistas da OCDE entrevistados pela TSF dizem que Portugal está no bom caminho e que o memorando assinado com a troika está a ter efeitos positivos.
Para estes, o Governo está a fazer «o que pode», mas esta organização internacional sublinha que Passos Coelho e Vítor Gaspar não dominam a evolução da economia internacional.